Metáforas, contos e contação: a contoexpressão na prática – Oficina de emoções.

(Para leer el texto en español pincha aquí)

Oi, tudo bem? Hoje falaremos sobre as metáforas como recurso junto à contação de histórias para ajudar as pessoas (crianças e adultos) a compreender os sentimentos (próprios e alheios), proporcionando uma oportunidade de mudança.

O que é a metáfora?

Metáfora é uma figura de linguagem onde se usa uma palavra ou uma expressão em um sentido que não é muito comum, revelando uma relação de semelhança entre dois termos.  Metáfora é um termo que no latim, “meta” significa “algo” e “phora” significa “sem sentido”. Esta palavra foi trazida do grego onde metaphorá significa “mudança” e “transposição“.

As Metáforas Terapêuticas

As Metáforas vem sendo utilizadas também com um fim terapêutico, já que proporcionam um espaço terapêutico, onde as crianças, as famílias e o terapeuta podem encontrar-se de forma mais natural.  Quando as metáforas são utilizadas dentro de um tratamento, o seu uso facilita o acesso a pontos dolorosos e conflitantes de uma forma não intrusiva e não ameaçadora.  A linguagem metafórica é uma ponte entre o simbólico e o real, entre o terapeuta e a família,  e também entre os diferentes membros da família. Seu uso oferece um espaço simbólico que agiliza os processos de elaboração do sintoma, onde a palavra não pode chegar.

  Uma metáfora terapêutica consegue mudanças na compreensão do paciente sobre o problema e sugere soluções adequadas sem impôr tarefas ou regras de comportamento. Ao empregar uma metáfora, o terapeuta destaca o que essas mudanças consistem, sem dizer-lhes literalmente; mas faz isso através da sugestão de uma comparação com uma experiência vivida (real ou indiretamente) pelo paciente. Assim, uma metáfora terapêutica apresenta ao paciente uma experiência conhecida ou, melhor ainda, vivida por ele, que está associada ao problema apresentado e oferecendo-lhe uma solução. Ao ouvi-lo, entendê-lo e revivê-lo, há uma mudança em seu comportamento. Com esta definição, a metáfora terapêutica pode consistir em uma única palavra ou uma narrativa de uma história.  ( José Antônio García Higuera – Artigo: Las Metáforas en la terapia de aceptación y compromiso

 Para que uma metáfora seja efetiva, é desejável que atenda às seguintes condições:

  1. A melhor metáfora terapêutica é aquela que se adapta ao problema que o paciente apresenta naquele momento. Além disso, para que seja efetiva é necessário que seja compreensível desde o ponto de vista do paciente, adaptando-se ao seu grau de desenvolvimento (tanto a nível de experiência como idade)
  2. O paciente deve ser refletido nela e identificado com algum ou alguns dos personagens que aparecem na narração.
  3. Deve estabelecer uma clara correspondência entre o problema do paciente e a experiência que ela conta.
  4. Dever ter uma estrutura de ação, para que o paciente possa encontrar na metáfora os passos que deve seguir para mudar o seu comportamento.
  5. A metáfora oferece uma solução para o problema, assim o paciente acessa um comportamento que ele não havia visto antes e que reinterpreta ou resolve o problema.

Desta forma, se o paciente muda de comportamento, o fará porque teve uma experiência pessoal através da metáfora, e não para agradar o terapeuta, ou por outros motivos que não seja uma real mudança interior.  Se desejas ler mais sobre este tema, recomendo este artigo  Las Metáforas en la terapia de aceptación y compromiso de José Antônio García Higuera (está em castelhano).

 Metáforas, Contos e Contação

Os contos em geral, são metáforas e contêm metáforas. E quando me refiro a contos, penso em narrativas de forma geral: contos modernos, contos de fadas (ou maravilhosos), lendas, fábulas, parábolas etc. Assim que, quando decidamos utilizar um conto dentro  de uma terapia (sempre realizada por profissionais capacitados), ou por profissionais da educação, é importante conhecer e compreender o sentido e o alcance das metáforas que estão intrínsecas no conto, bem como a metáfora geral do conto.

Para que uma metáfora perdure no tempo, dentro da memória das pessoas, é interessante dotá-la de imagem e proporcionar a sua experimentação. Para isso, nada melhor que uma eficaz contação, onde o contador da história utilize evoque imagens mentais e sentimentos já existentes nos ouvintes, e proporcionem uma participação ativa destes, através de perguntas, por exemplo.

Para uma melhor compreensão do que expliquei, vou utilizar como exemplo  uma das oficinas que realizo. Se trata da “Oficina de Emoções com Carlota”, preparada para um público infantil. Nesta oficina utilizo como base o meu conto “Carlota não quer falar” o qual possui várias metáforas para explicar os sentimentos. Se te interessa este tema, te recomendo que conheça melhor o conto assim compreenderás melhor o enfoque da Oficina de Emoções (Entre aqui). 

Oficina de Emoções com Carlota

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O objetivo da oficina é que as crianças compreendam o efeito das emoções, identificando a emoção no momento em que ocorre, não somente em si mesmas, mas também em outros.  Além disso, também aprenderão sobre a importância de falar sobre os seus sentimentos, e receberão ferramentas para administrá-los.

A Oficina está formada de três partes (e em todas utilizo metáforas):

1 . Introdução: O balão a caixa e a pedra

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Antes de começar a contação faço uma introdução bastante gráfica, utilizando um balão, uma caixa e uma pedra. As crianças se divertem muito nesta parte e criamos uma conexão muito boa.  O conto começa com as frases: “Carlota tem dificuldades para falar sobre o que sente. Guardou tantos sentimentos dentro de si, que se sente cheia como um balão e pesada como uma grande pedra.”

Para que as crianças possam compreender mais profundamente o sentido dessas metáforas, começo enchendo um balão vermelho. A medida que vou enchendo o balão, paro para conversar com elas e dizer-lhes que acho que ainda falta encher um pouco mais. As crianças começam a ficar preocupadas, porque o balão está muito cheio, porém não esperam que eu siga enchendo. Até que “bummm” o balão explode e elas se assustam.  “Isso é o que passa quando enchemos muito o balão”, lhes digo, e depois sigo com a caixa.

Se trata de uma caixa de sapatos decorada, com um coração na parte superior e um  buraco no centro, onde a criança pode introduzir a sua mão. Dentro da caixa coloco uma pedra pesada. A caixa simboliza o coração e a pedra simboliza os sentimentos que vamos guardando dentro dele. Primeiro peço para cada criança segurar a caixa, e pergunto: Está pesada ou leve? Vocês acham que seria fácil caminhar durante horas carregando este peso? Depois, cada criança introduz a mão na caixa, e faço outras perguntas: O objeto é suave ou áspero? É  agradável tocá-lo? Neste ponto, as crianças descobrem que se trata de um pedra, assim que retiro a tampa da caixa e mostro a pedra para elas.

Durante esta parte introdutória, não explico o sentido da metáfora, já que elas compreenderão o significado destes objetos, e a conexão deles com os sentimentos, durante a contação. Evito fazer explicações, para que as crianças possam captar o ensinamento, de acordo com a capacidade individual, a idade e experiências pessoais. Agindo assim, não subjugo o conhecimento delas. 

Depois de ter integrado na mente das crianças, os conceitos base, através da experimentação, passamos para a segunda parte que é a contação.

 2. Contação: Carlota não quer falar

Como já disse, o conto está cheio de metáforas para explicar os sentimentos de forma experimental. Como se trata de um conto interativo, as crianças se sentem parte da história e participam ativamente durante toda a contação. É uma experiência muito significativa para elas. Começo a contação apresentando o problema de Carlota e convidando as crianças a ajudarem ela: “Carlota tem dificuldades para falar sobre o que sente. Guardou tantos sentimentos dentro de si, que se sente cheia como um balão e pesada como uma grande pedra.” Vocês gostariam de ajudar a Carlota? Para isso, todos têm que falar por ela. Vocês estão de acordo? 

O conto apresenta quatro problemas: 1) Carlota incomodou-se com um menino no parque; 2) Carlota tem problemas para dormir; 3) Carlota se sentiu mal porque a sua melhor amiga Julia estava brincando com outra menina; 4) Carlota se sentiu mal porque pegou a boneca da sua amiga sem pedir. Apresento o problema, e pergunto às crianças o que está sentindo a protagonista. Depois, pergunto o que ela deve fazer para resolver o seu problema e sentir-se melhor. Para cada uma dessas questões, há duas opções dentro da história. Faço a criança pensar o que aconteceria ao escolher uma ou outra opção.

Exemplo: Carlota não consegue dormir. As crianças já identificaram que ela não consegue dormir porque sente medo. Opções: a) Ela deve ficar acordada toda a noite; b) Ela deve confiar que papai e mamãe estão cuidando dela.  O que aconteceria se ela ficasse acordada toda a noite? Como se sentiria no dia seguinte? Estaria bem para estudar ou brincar?

Depois que conversamos e pensamos nessas possibilidades e as crianças fizeram as suas escolhas, lhes digo: Vejamos qual foi a escolha da Carlota. Será que ela escutou o conselho de vocês?

Então, passamos a página e aí está o resultado. As crianças desfrutam muito nesta parte, porque esperam que Carlota tome a decisão correta. Nesta parte também introduzimos metáforas para explicar cada sentimento. Devemos conversar com as crianças sobre essas metáforas, fazendo perguntas para que elas possam entendê-las. Exemplo: “O perdão é como um banho de mar num dia de calor”. Quem gosta do verão? Faz muito calor, né? Quando sentimos muito calor, o que podemos fazer? Ir na praia é uma boa ideia. Agora imaginem que está fazendo muito sol, você sente muito calor e se joga na agua do mar, ou na piscina… o que você sente? Respostas que costumam aparecer: frescor, alivio, tranquilidade, alegria.

Terminamos a contação com Carlota agradecendo as crianças por ajudá-la a falar sobre os seus sentimentos. É Maravilhoso ver os olhinhos delas brilhando ao perceber que puderam ajudar a protagonista do conto. Todas estão sorrindo e felizes 🙂

Vejamos as metáforas que aprecem no conto:

3. Exercício de conhecimento e gestão dos sentimentos: O Semáforo

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Depois que as crianças vivenciaram a história da protagonista, participando ativamente da contação, esperamos que elas ao menos tenham compreendido a importância de expressar os seus sentimentos, além de identificar alguns sentimentos apresentados na história.

Agora chegou o momento de que as crianças compreendam a importante de gerir estes sentimentos e para isso utilizo a Metáfora do Semáforo, que é uma técnica para aprender a identificar o grau de intensidade de um sentimento, além de como enfocá-lo. Dependendo do tempo que disponho, também utilizarei outra metáfora, que é a Técnica do Vulcão (esta última a modo de introdução para a outra).  Desenvolvo esta parte da seguinte maneira:

Mostro para as crianças a imagem de um Semáforo (pintado por mim) e pergunto se elas sabem o que é. Depois lhes peço que me expliquem o que significa cada cor no semáforo. As crianças explicam sem problemas, porque todas conhecem o seu funcionamento. Depois começo a explicar-lhes que os semáforos foram criados para ajudar a controlar o trânsito, principalmente os carros que gostam de correr muito rápido. Algumas vezes temos sentimentos que são como carros descontrolados, que correm a toda velocidade. Um carro descontrolado é muito perigoso e pode machucar tanto as pessoas que encontra pelo caminho, quanto a pessoa que vai dentro dele. Os sentimentos descontrolado podem provocar estragos semelhantes. Assim como o semáforo controla o trânsito, também podemos utilizar o semáforo dos sentimentos para ajudar a controlar o que sentimos. As vezes sentimentos raiva porque alguém nos ofendeu, e também as vezes essa raiva é tão forte que pode tomar controle da nossa mente e provocar que façamos dano a pessoa que nos ofendeu. Quando sentimos a raiva borbulhando dentro de nós, como um vulcão em erupção, pronto a explodir, então devemos PARAR (mostrar o Sinal vermelho), respirar fundo e contar de 5 até 0. Se já nos sentimos um pouco mais tranquilos então passaremos para o Sinal Amarelo (mostra sinal Amarelo – PENSAR). Vamos pensar nas opções que temos, e o resultado de tomar cada uma delas. Me sentiria bem se batesse na pessoa que me provocou? Isso resolveria o problema? Posso perdoá-la e tentar conversar sobre o problema com ela. Quando já pensamos na melhor opção, então chegou a hora de seguir adiante com o Sinal Verde (Mostrar Sinal Verde – Fazer). Agora vamos fazer aquilo que decidimos anteriormente.

Parece um pouco longo e complicado, mas na prática é muito fácil e as crianças compreendem muito bem a proposta. Depois da conversa/explicação, daremos os semáforos para que as crianças pintem e montem, para levar às suas casas.

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Se ainda temos um pouco de tempo, jogamos o Ludo das Emoções, para colocar em prática um pouco do que aprendemos.


Hoje aprendemos um pouco sobre as metáforas e a importância delas na terapia e também na educação emocional. Se você gostou do que vimos hoje, e quer conhecer mais sobre a educação emocional, preparei um projeto bem interessante sobre o assunto.

No Projeto de Educação Emocional com Carlota você encontrará uma parte teórica, onde explico o que é a contoexpressão e como utilizá-la, também falo sobre a educação emocional. Há também uma parte teórico-prática com muitos jogos, técnicas de gestão dos sentimentos, fichas para colorir, atividades etc.  Para conseguir Projeto você só tem que preencher o formulário abaixo, e em breve enviarei o material em pdf e de forma gratuita para você.  Se gostou do conto e quer saber como comprá-lo clica aqui. 

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