O Pescador e o Gênio: Análise simbólico de um conto polissêmico.

(Para leer el texto en Castellano pincha aquí)

Pescador port

O ano já está terminando, e para despedir-me deste ano quero compartilhar com vocês um dos contos que mais gosto e mais utilizo: “O Pescador e o Gênio” também conhecido como “O Pescador e o Ifrit” que é uma das histórias contadas pela bela e inteligente Scheherazade ao sultão no famoso livro “As mil e uma noites”

Se trata de um conto polissêmico, ou seja,   um conto que possui uma pluralidade de significados,   já que  contêm muitos símbolos e personagens arquetípicos. Além disso, nos  contos polissêmicos “aparecem elementos maravilhosos e sobrenaturais, misturados com elementos tirados da realidade” (Aurelio M. Espinosa). 

“O pescador e o gênio” conta como um pobre pescador joga a rede no mar quatro vezes. Primeiro pesca um burro morto, a segunda vez um jarro cheio de areia e lama. Na terceira tentativa a coisa fica pior que as anteriores: cacos de vidro e barro. Na quarta vez, o pescador tira um vaso de cobre. Ao abri-lo, surge uma enorme nuvem que se materializa em um gênio gigantesco que ameaça matá-lo, apesar dos apelos do pescador. Porém, graças à sua inteligência o pescador consegue livrar-se do Gênio: ele zomba do gênio desafiando-o a se tornar pequeno e entrar no vaso. Então o pescador cobre rapidamente e sela o vaso, jogando-o de volta ao mar.

Resolvi compartilhar este conto com vocês porque estarei publicando uma série de posts onde vou explicar muitas atividades que estou realizando (oficinas, palestras, contação de histórias, contoterapia), nas quais utilizo também este conto. Conhecendo o conto será mais fácil para que vocês compreendam as atividades.

Este conto utilizei em várias ocasiões, tanto em uma sessão de contoterapia individual, como oficinas grupais. E para que idades serve? TODAS. Já utilizei com crianças, adolescentes e adultos. Para atingir quais objetivos? Para trabalhar a educação emocional; introjetar o conceito de impulsividade; fomentar a necessidade de lidar com as más condutas para poder ser mais fortes e alcançar os sonhos; lidar com os vícios, etc.

Além do conto (na minha própria versão) deixarei de presente para você uma “Análise Simbólico”  feita por mim.   Os símbolos escolhidos para análise são: 1. Pescador 2. Gênio (Ifrit)  3. O número 4 (quatro objetos pesados – 4 séculos – 4 membros da família (mulher e três filhos). 4. O vaso de cobre e a tampa de chumbo. Genio e o Pescador análisis dos simbolos em português  Se você tiver alguma dúvida ou quiser conversar comigo, não duvide em escrever-me. Abaixo deixarei um formulario de contato, para que seja mais fácil. Obrigada pela visita e não se esqueça de seguir-me para receber as atualizações 😉

O Pescador e o Gênio

Contaram-me, ó poderoso rei, que havia um pescador, de idade muito avançada, casado, pai de três filhos e muito pobre. 

Tinha o costume de tirar a rede quatro vezes por dia, e não mais. Ora, um dia, no início da tarde, ele foi para a beira do mar, descansou seu balaio, atirou a rede e ficou esperando até que ela pousasse no fundo da água. Então recolheu a rede, porém esta pesava muito e não conseguia puxá-la. Levou, então, a ponta do fio à terra e amarrou-a numa estaca enfiada na areia. Depois despiu-se e mergulhou na água que ficava em volta da rede e não cessou de debater-se até soltá-la. Alegrou-se, tornou a se vestir e, aproximando-se da rede, encontrou um burro morto. Vendo aquilo, ficou desolado, mas ainda assim agradeceu a Deus. 

Depois de ter retirado a rede e limpá-la, voltou a jogá-la ao mar e esperou. Depois de um tempo tentou puxá-la e observou que estava pesada como na primeira vez. Acreditando ser um grande peixe, amarrou a ponta a uma estaca, despiu-se e mergulhou. Quando levou a rede à margem, encontrou nela um jarro enorme, cheio de lama e areia. Vendo aquilo, disse: “Ó traicões da sorte! Piedade! Que tristeza. Sobre a terra, nenhuma recompensa é igual ao mérito, nem digna do sacrifício. Às vezes saio de casa para procurar a fortuna. E dizem-me que ela morreu há tempos. Miséria. É assim, ó Fortuna, que relegas os sábios à obscuridade, para deixar que os tolos governem o mundo.”
Depois, atirou o jarro para longe de si, torceu a rede, limpou-a, pediu perdão a deus pela sua revolta e voltou ao mar pela terceira vez. Atirou a rede, esperou que ela atingisse o fundo e, tendo-a retirado, encontrou potes quebrados e pedaços de vidro. Vendo aquilo, recitou outra vez versos de um poeta: “Ó Poeta, o vento da fortuna jamais soprará ao teu laod! Ignoras, ingénuo,que nem tua pena de caniço nem as linhas harmoniosas de tua escrita não te hão-de enriquecer?” 

E, erguendo a cabeça para o céu, exclamou: “Alá! Tu o sabes! Eu não te atiro minha rede senão quatro vezes. Ora, eis que a deitei três vezes ao mar!” depois disso, invocou ainda uma vez o nome de Alá e jogou a rede ao mar, esperando que deitasse ao fundo. Dessa vez, apesar de todos os esforços, não conseguiu retirar a rede que se agarrou às rochas do fundo. Então exclamou: “Não há força e poder senão em Alá!” Depois, despiu-se, mergulhou em torno da rede e se pôs a manobrar até que a desprendeu e a trouxe para terra. Abriu-a e ali encontrou um grande vaso de cobre amarelo, cheio e intacto. Sua boca estava selada com chumbo, trazendo o sinete de Salomão, filho de Davi. Vendo aquilo, o pescador ficou muito feliz, e exclamou: “Eis uma coisa que venderei aos caldeireiros, pois deve valer pelo menos 10 dinares de ouro!” Tentou sacudir o vaso, mas viu que era muito pesado, e disse consigo mesmo: “Preciso abri-lo e ver seu conteúdo, que colocarei no saco; em seguida venderei o vaso.” Tomou, então, uma faca e começou a descolar o chumbo. Virou o vaso e dele nada saiu, excepto uma fumaça que subiu até o céu, e se desenrolou na superfície do solo. O pescador espantou-se. Depois a fumaça condensou-se e se transformou num ifrit, cuja cabeça tocava as nuvens e os pés ficavam plantados ao chão. A cabeça daquele ifrit era como uma cúpula, as mãos como forcados, os pés como mastros, sua boca uma caverna, seus dentes como seixos, seus olhos como tochas. Seus cabelos estavam em desordem e empoeirados. À vista daquele génio, o pescador ficou apavorado, seus músculos tremeram, seus dentes serraram, a saliva secou e seus olhos cegaram para a luz. 

Quando o ifrit viu o pescador, exclamou: “Por favor, grande Salomão, não me mate! Farei o que ordenes! Então o pescador disse: “Gigante, Salomão morreu há mil e oitocentos anos. Qual é a causa de tua entrada neste vaso?” O génio respondeu: Deixa-me dar uma boa nova, pescador.” O pescador disse: “O que me vais anunciar?” Ele respondeu: “Tua morte. E neste mesmo momento, e da mais horrível maneira.” O pescador respondeu: “Por essa notícia tu mereces, ó tenente dos ifrits, que o céu te retire sua protecção! E possa ele afastar-te de nós! Por que, pois, queres tu minha morte? O que fiz para merecê-la? Libertei-te daquela prolongada prisão no mar e te trouxe a terra!” Então o ifrit disse: “Pensa e escolhe a morte que preferes, e a forma pela qual apreciarás ser morto!” O pescador disse: “Qual o meu crime, para merecer tal punicao?” O ifrit falou: “Escuta minha história, ó pescador.” O pescador disse: “Fala! E sê breve em teu discurso porque minha alma, de impaciência, está a ponto de sair de meu pé!” O ifrit então contou:
Sabe que sou um gênio rebelde. Havia me revoltado contra Salomão, filho de Davi. Meu nome é Sakir-El-Gênio. Salomão mandou ter comigo seu vizir, Assef, que me levou, apesar de meus esforços, e me conduziu à presença de Salomão. Vendo-me, Salomão fez a conjuração a Alá e me ordenou abraçar sua religião e lhe prestar obediência. Recusei. Então ele fez trazer este vaso e nele me aprisionou. Depois, fechou-o com chumbo e imprimiu nele o sinete com o nome do Muito Alto. Depois deu ordens aos gênios fiéis que me atiraram ao mar. Fiquei cem anos no fundo da água, e dizia em meu coração: “Farei eternamente rico aquele que me libertar.” Mas os cem anos se passaram e ninguém me libertou. Quando entrei no segundo período de cem anos, disse comigo: “Descobrirei e darei os tesouros da terra `àquele que me libertar.” Mas ninguém me libertou. Então decidi conceder 3 desejos a quem me libertasse. Mas como isso não aconteceu fiquei tomado de tremenda cólera e disse em minha alma: “Agora, matarei aquele que me libertar, e só lhe concederei que escolha a sua morte! Foi então que tu vieste me libertar. E te concederei que escolhas teu gênero de morte.”
Ouvindo isso, o pescador disse: “Ó Alá, que coisa mais prodigiosa! Foi preciso que fosse logo eu quem te libertasse. Ó ifrit, concede-me graça, e Alá te recompensará! Mas se me fizeres perecer, Alá fará surgir alguém que te faça perecer por tua fez.” Então o ifrit lhe disse: “Mas eu quero te matar justamente porque me libertaste.!” E o pescador disse: “Ó grande Gênio, assim que tu pagas o bem?” Mas o ifrit lhe disse: “Chega de abusar das palavras! Sabes que é absolutamente necessária a tua morte!” Então o pescador disse consigo mesmo: “Eu não sou senão um homem e ele é um gênio. Mas Alá deu-me uma razão bem assentada e assim vou arranjar um meio para perdê-lo, um estratagema para enganá-lo. E verei bem se ele, por sua vez, poderá combinar alguma coisa com sua malícia e sua astúcia.” Então ele disse ao gênio: “Decidiste verdadeiramente a minha morte.” O ifrit respondeu: “Não tenhas dúvidas.” Então ele disse: “Pelo nome do Muito Alto, que está gravado sobre o sinete de Salomão, conjuro-te a responder com a verdade à minha pergunta!” Quando o ifrit ouviu o nome do Muito Alto, ficou emocionado e muito impressionado, e disse: “Podes fazer a pergunta, que te responderei com a verdade.” Então o pescador disse: “Como pudeste caber inteiro neste vaso onde mal caberiam teu pé ou tua mão?” O ifrit disse: “Por caso duvidarias disso?” O pescador respondeu: “Com efeito eu não acreditarei nunca, a menos que te veja com meus próprios olhos, entrar no vaso.”

O Gênio começou a mover-se e transformando-se novamente em fumaça começou a entrar, pouco a pouco, no vaso. Quando o Pescador viu que toda a fumaça já estava dentro do vaso, pegou rapidamente a tampa de chumbo e a colocou sobre o vaso, fechando a entrada. Quando o Ifrit percebeu que não podia sair começou a agitar-se dentro do vaso, pedindo para ser liberado. “_ Clemência pescador! Se me libertares farei de ti o homem mais rico e poderoso do mundo!” “_Já não creio em ti, malvado Gênio! Tenho certeza que me matarás se te liberto. Mas te contarei os meus planos. Te devolverei ao mar, de onde não deverias ter saído. Depois construirei uma casa a beira do mar, e contarei a todos que passem por aqui o que me aconteceu. Assim, se alguém encontrar este vaso, saberá que um malvado gênio vive no seu interior, e voltará a jogar-te ao mar.”

Enquanto o malvado ifrit gritava, pedindo para ser liberado, o pescador devolveu o vaso ao fundo do mar, satisfeito por ter conseguido conservar a sua vida.

 

Publicidade
cinco contos para abordar a raiva, a ira e emoções negativas

5 contos com gigantes para abordar a impulsividade, a raiva e outros sentimentos gigantescos

SOBRE O GIGANTE

Os gigantes aparecem em diversos contos e mitos. É importante esclarecer que o gigante não é em si, nem bom nem mau. Ou seja, não é uma figura arquetípica da maldade, como o Lobo Mau, por exemplo. É na verdade uma AMPLIAÇÃO QUANTITATIVA DO ORDINÁRIO. Por isso, existem gigantes legendários protetores e outros perigosos.

“Esse sentido do gigante, como “o que supera” a estatura (simbólica aqui de poder e força), determina também a indefinição do significado do gigante. Pode ser uma imagem do “pai terrível”, por reminiscência da infância (as crianças veem seus pais como gigantes), uma imagem do inconsciente, da “sombra” em sua periculosidade erguida diante do Self, etc.” (Traduzido do Dicionário de Símbolos “Juan Eduardo Cirlot”, Editora Siruela)

Me lembro que em uma ocasião criei uma série de atividades para uma criança com TDAH com problemas de impulsividade e expressividade exagerada de ira. Nesse programa incluí diversos contos com gigantes. Alguns deles apresento hoje para vocês. O resultado foi incrível! Depois dessa série de atividades a criança de 6 anos expressou “Tenho um problema com um gigante que se chama impulsividade”.

É importante destacar que eu JAMAIS EXPLICO OS CONTOS, simplesmente utilizo a metodologia que criei (CONTOEXPRESSÃO) e as suas ferramentas para DESPERTAR o conhecimento da pessoa, em relação a algo que ela deve compreender para que a mudança comece de dentro para fora.

Se quiser aprender mais sobre esta metodologia e como utilizar os contos na educação e terapia, veja aqui o meu curso online.

QUER CONHECER OS 5 CONTOS?

Deixo para você o conto e também uma análise simbólica deste conto. Entre neste link para ver o post que preparei.

Quer ler o conto completo? Deixo aqui o link

E por último, deixo o meu conto O GIGANTE QUE APRENDEU A SUSSURRAR. Esse conto possui diversas atividades didáticas que podem ser utilizadas tanto com crianças, como adolescentes e adultos, inclusive na terapia familiar. Deixo aqui o link para conhecê-lo melhor e para que você possa solicitar o material de apoio gratuito.

Gostou? Deixe o seu comentário e compartilhe nas suas redes sociais.

Contoexpressão: Resumo de publicações

Nesse espaço pretendo fazer um resumo, com links para todas as publicações sobre este tema. Assim será mais fácil encontrar os post’s relacionados à  Contoterapia.

Para entender a Contoexpressão:

1 – Contoterapia – Que bicho é esse? Através deste post explico o que é a contoterapia, e faço uma breve introdução de como utilizá-la na educação emocional.

2 –  Metáforas, contos e contação: a contoterapia na prática – Oficina de emoções. O que é e como utilizar a metáfora terapêutica. Além disso, explico como utilizar o Conto “Carlota não quer falar”  para fazer uma oficina de emoções.

3 –  Conto Terapêutico e Bem-estar psicológico. Uma outra visão da contoterapia. Se entende por conto terapêutico a todo conto escrito por um sujeito a partir da situação traumática mais dolorosa que tenha vivido e cujo conflito conclui com final “feliz” ou positivo; ou seja, que a situação traumática vivida no passado se resolve positivamente no conto (Bruder; 2004).

 Artigos variados sobre Contoterapia:

1 – Você acha que é possível contar contos para adolescentes?  Contos contos a adolescente parece algo difícil, porém se abrimos a nossa mente, veremos que isso é possível. Mostrarei que a contoterapia é uma excelente ferramenta para conectar com os adolescentes.

2 –  O Pescador e o Gênio: Análise simbólico de um conto polissêmico.  Quero compartilhar com vocês esse conto que faz parte das histórias de “As mil e uma noites”. Um conto cheio de simbolismo que pode ser uma excelente ferramenta para todos os públicos.

3 –  Toma nota: Menos sermões e mais histórias, seus filhos agradecerão e crescerão. um sermão geralmente entra por um olvido e sai pelo outro. Vou compartilhar com você o segredo para ser escutado pela sua criança ou adolescente.

4 –  Minha Experiência: TDAH, educação emocional e contoterapia. Realmente funciona?

5 – Por que contar contos às crianças? Nesse post comento sobre os benefícios de contar contos às crianças e explico o que é o “horizonte de significado”.

  Post com material incluido (Educação Emocional) 

1 –  Quando a tristeza se disfarça de fúria: uma atividade para desenvolver a consciência emocional. Atividade formada por um conto, mais material de apoio gratuito para ajudar a trabalhar a consciência emocional, para todas a idades.

2 –  O seu filho morde? Vem conhecer a Jaquinha, um lindo conto que fala sobre essa fase da criança. Resenha do Conto “A Jacarezinho que mordia”, com material para baixar  e proposta de atividades.

3 –  Carlota não quer falar, un conto com muitos valores: Com esse post apresento o meu conto “Carlota não quer falar”, além de oferecer um montão de materiais gratuitos para trabalhar a educação emocional das crianças.

4 –  Conto + Atividade: O Idioma de Júlia. Para pintar, desenhar, cantar e dançar. : Se trata de um conto inédito, que escrevi para  ensinar as crianças que cada pessoa é diferente, mas que apesar das nossas diferenças podemos ser amigos e passar tempo juntos, fazendo coisas que gostamos.

5 – Atividade para gerir a Raiva: O Monstro da Raiva: Se trata de uma atividade de contoexpressão, com base na fábula de Aquiles Nazoa “A Vespa Afogada”, com sugestão de várias atividade para educação emocional.

logo do blog a caixa de imaginação

Você acha que é possível contar contos para adolescentes?

(Para ler o texto em português clica aqui)

Sim, claro que é possível! Mas você deve estar disposto a rir de si mesmo. Não é nada fácil estar diante de um grupo de  adolescentes e saber que eles estão pensando:  O que essa estranha está fazendo aqui? Eu não sou mais uma criança para me contem contos! 

Se você se atreve a prosseguir e passar o limite do “ridículo”, você verá que é possível conquistar seus corações,  e lhe garanto que essa é uma sensação maravilhosa.

Agora vou lhe explicar como usei duas histórias para trabalhar com adolescentes sobre a importância dos sonhos como objetivos nos quais temos que trabalhar. Você também pode usar esse material com adultos.

1 – Histórias utilizadas:

2 – Porque escolhi estas histórias:

Ambas  histórias apresentam uma pessoa normal como protagonista. Tanto Davi quanto o Pescador estavam desprovidos de habilidades especiais que fizessem deles pessoas importantes aos olhos dos outros, apesar dessa aparente simplicidade, ambos venceram a gigantes. Todos nós temos gigantes que precisamos vencer para alcançar nossos sonhos. Na grande maioria das vezes esses gigantes estão dentro de nós.

“Os contos de fadas podem ser aventuras adoráveis, mas também lidam com um conflito universal: a luta interna entre as forças do bem e as forças do mal”. (Sheldon Cashdan em “A bruxa deve morrer”)

Penso que todos temos defeitos de caráter que podem nos impedir de alcançar nossos sonhos/objetivos. Se quisermos continuar nosso caminho de crescimento pessoal,  que nos conduzirá até aquilo que almejamos,  precisamos identificar quais são esses gigantes que necessitam ser vencidos. Somente assim chegaremos ao nosso “final feliz”.

É importante esclarecer que o objetivo desta atividade é plantar sementes na mente dos adolescentes. Todo plantio é um processo, como um caminho que deve ser trilhado.  As historias são sementes, as plantamos na mente e esperamos que elas despertem, transformando-se em frutos.

3. Contação:

Como eu já conhecia a grande maioria dos adolescentes que participaram da atividade, decidi usar como técnica narrativa uma dramatização através de um monólogo, onde representava uma guerreira amazona.  Como conhecia muito bem ambas história, utilizei  improvisação: conversei com os assistentes, fiz piadas rindo de suas roupas;   às vezes me mostrava feroz  e às vezes engraçada. Contei primeiro a história de Davi e Golias e depois o conto do Pescador e do Gênio. Eles adoraram! 

Claro que é possível contar as histórias sem a teatralização. Mas, certifique-se de que a narração é atraente.

Foto genio y pescador claudine

4. Como desenvolver a atividade de apoio

Depois de contar a historia lancei algumas perguntas. Pedi para eles pensarem nos sonhos que queriam alcançar.    O que deseja fazer profissionalmente? Que tipo de pessoa desejas ser dentro de alguns anos? Você planejou se casar e ter filhos? Que tipo de pai ou mãe desejas ser?

Pedi-lhes que pensassem sobre suas características, suas qualidades e habilidades: você possui as habilidades necessárias para conquistar seus sonhos? Que habilidades lhe faltam? Quais são as qualidades que o ajudarão a alcançar esses objetivos?

Agora pense nos seus defeitos: Você é impaciente? Você se frustra facilmente? Você é impulsivo? Quais são os gigantes que podem impedir que você atinja seus sonhos? Como você pode vencê-los?

Bem, você já fez uma avaliação agora pensemos em uma árvore, você é essa árvore. Essa árvore tem raízes, tronco e o copo onde estão os frutos. Vamos visualizar esta árvore e transformá-la em algo mais real (é como um jogo simbólico).

Vamos fazer um jogo inverso, isto é, primeiro identificaremos os sonhos que queremos colocar na nossa árvore, vamos começar a partir daí, porque será mais fácil saber quais as ações e qualidades que precisamos desenvolver, quando conhecemos o que sonhamos.

  • Os frutos:   são os sonhos. ex. Eu quero ser médico; Quero escrever um livro; Eu quero viajar para um país distante e viver grandes aventuras.
  • O tronco: no tronco estarão escritas as ações que precisamos desenvolver ao longo do tempo para que esses frutos/sonhos se tornem reais. Ex. Para fruto / sonho: quero ser médico, minhas ações serão: serei um bom estudante, terminarei o colégio, e me esforçarei para entrar na faculdade de medicina. Quando esteja na faculdade darei prioridade aos estudos, etc.
  • As raízes: as raízes da árvore serão nossas qualidades, as que devem ser a base da nossa personalidade e que nos ajudarão a produzir as ações necessárias para alcançar nossos sonhos. Temos que escrever essas qualidades, as que temos e as que precisamos ter. Ex. Do fruto / sonho: quero ser médico, minhas ações serão: serei um bom estudante, terminarei o colégio, e me esforçarei para entrar na faculdade de medicina.etc. Minhas raízes serão: paciência, perseverança, dedicação, amor para com meu próximo, etc.

Podemos fazer a árvore de duas maneiras:

  • Uma grande árvore em comum, isto é, para todos os participantes (ou grupos, se participam mais de 10 pessoas): onde cada participante colocará seu fruto / sonho na parte superior da árvore, essa fruta será feita com a palma da mão pintada com guache.
  • A4 árvore individual: cada participante terá sua árvore individual, onde fará as anotações da atividade, conforme explicado acima. Na atividade que fiz, deixei cada participante desenhar sua própria árvore. Porém não recomendo que seja assim, já que se dedicaram mais ao desenho do que na parte escrita dos sonhos, que era o objetivo real. Por esse motivo, recomendo levar um desenho em preto e branco de uma árvore simples como base para fazer as anotações da atividade.

Importante: alguns não se sentem confortáveis ​​expondo seus sonhos, então você deve deixar claro que é algo pessoal e que outras pessoas não terão acesso a ele.

Finalmente, cada participante pode levar a sua árvore à casa. Mas, para que a atividade tenha um impacto na vida desses adolescentes, seria interessante fazer o seguinte:

O professor recolhe todos os desenhos, colocando cada um dentro de um envelope  com o nome de quem o fez.
No final do ano o professor pode devolver este envelope com outra carta escrita pelo próprio professor, onde ele fala sobre as qualidades do aluno, encorajando-o a continuar lutando contra seus gigantes, a melhorar como pessoa, a se olhar constantemente no espelho para fazer uma análise de seus comportamentos e assim poder alcançar os seus sonhos.

 

Se você nunca trabalhou com adolescentes, é importante saber algumas coisas:

  • Não tenha medo do ridículo: se eles vêem medo em seus olhos, fim de trajeto.  É possível que eles façam piadas, pequenos comentários para te deixar com dúvidas, para atacar a sua confiança, ou simplesmente para fazer de palhaço diante dos amigos. Mostre-lhes que você não tem medo do ridículo, que, na verdade, você se expõe ao “ridículo” por iniciativa própria (o ridículo ao que me refiro é aos olhos deles, porque não tem nada de vergonhoso contar contos).  Se eles percebem que não podem te tocar nesse lado, eles vão deixá-lo em paz.
  • Trate-os com respeito: sim, você pode fazer piadas sobre eles, não tem problema. Mas eles devem perceber que você se importa por eles. Se você quer ser ouvido,    deve estar disposto a ouvi-los também. Se quiser ensinar-lhes algo, deve aceitar que talvez eles não concordem com sua idéia, e   podem dizer isso abertamente, sem que seja um drama.
  • Não minta para eles: os adolescentes não podem suportar hipocrisia e mentiras. Se você tem dúvidas, se não sabe a resposta, reconheça. O grande problema que os adolescentes têm com seus pais é quando estes exigem atitudes que eles mesmos não estão dispostos a ter. Então não faça o mesmo, você os perderá.
  • Lembre-se de que você  está controle: Ainda que você não tenha todas as respostas; mesmo que admita que tem dúvidas, não significa que você não esteja (ou possa estar) no controle. Embora eles não queira admitir, necessitam sentir-se seguros. E para isso eles devem devem saber que você está lá e que controla a situação. Mantenha-se firme.

O que achou da atividade? Gostaria de receber a sua opinião. Obrigada por passar pela minha Caixa de Imaginação. Compartilhe esta atividade nas suas redes sociais, assim outras pessoais poderão ter acesso a este e outros materiais que publico.