Você está criando pássaros em gaiola de concreto?

(Para leer el texto en Español pincha en: Pájaro en jaula de concreto)

pássaro na A Caixa de Imaginação
Ilustração: Claudine Bernardes

O passarinho na gaiola de concreto

O pobre passarinho está preso na gaiola.
Dão-lhe de beber e dão-lhe de comer.
Esperam que cante…
mas, cantar o quê?
Cantar de como é triste a sua prisão?
Que suas asas doem e deseja sua libertação?

O pobre passarinho está preso em sua triste gaiola,
feita de tijolo e revestida de cimento.
Dão-lhe de comer, dão-lhe de beber,
ensinam-lhe a ler.

O triste passarinho já nasceu numa jaula.
Entretanto, ainda é pássaro e anela voar.
Sem perder a determinação,
suas frágeis asas chocam-se
constantemente contra a prisão.

O pequeno pássaro deseja fugir da estreita
gaiola revestida de cimento,
por isso molesta, protesta,
mas ninguém lhe presta atenção.

Inscrevem-lhe em atividade extraescolar,
talvez assim deixe de importunar.
Com a mente cansada e a asa quebrada
o pobre passarinho cai rendido,
mas, ainda assim, não desistiu de voar.
(Claudine Bernardes)

As vezes sinto que estou criando um pássaro numa gaiola de concreto.

Brincar é a atividade mais importante para as crianças.

Não se trata somente de diversão, é também uma maneira de desenvolver-se e de aprender. Segundo o artigo de Melinda Wenner Moyer, na revista “Mente y Cerebro” nº 46 (A importância de brincar),

“A brincadeira estimula a inteligência e reduz o stress. Além disso, de acordo com diversos estudos realizados, a falta da brincadeira na infância, junto com o maltrato, constituem duas variáveis que deterioram o desenvolvimento.”

Lembro-me que de pequena, brincar era o centro da minha vida. Sozinha, com os irmãos, primos ou vizinhos, nos sobrava tempo e o bairro era o nosso jardim de jogos. Estudava? Claro que sim! No entanto tínhamos a liberdade de fazer o que quiséssemos com o nosso tempo livre. Eram outros tempos, não nego. Hoje em dia as crianças já não vivem com tanta liberdade, principalmente aqui na Espanha, onde a maioria das famílias vivemos em edifícios. Soma-se a esta realidade o fato de que na maioria das famílias, ambos pais trabalham e as crianças devem passar cada vez mais tempo ocupadas. Começam a estudar cada vez mais jovens (meu filho aos quatro anos já sabia ler), e para ocupar o tempo são matriculados em diversas atividades extraescolares.

Você pensa que estou exagerando?

Conheço a muitas crianças que chegam no colégio às 8h da manhã (algumas antes), almoçam lá, e as 17h, quando termina a aula, devem participar de inúmeras atividades extraescolares (dança, patinagem, futebol, piscina, matemática etc.). Depois dessa frenética atividade diária, a pobre criança chega em casa e ainda deve fazer os deveres, estudar para provas, jantar, tomar banho e cair rendida de sono… porque no dia seguinte começa tudo outra vez.

É como se cada momento da vida da criança devesse estar programado. Ocupar o tempo dos filhos com qualquer coisa, virou uma obsessão na cabeça dos pais.

Sobre isso, Melinda Wenner Moyer adverte que

“Atualmente os pais priorizam para seus filhos as atividades estruturadas, deixando pouca margem para brincadeiras e jogos livres, os quais beneficiam a criatividade, a cooperação e a conduta social.”

O quê podemos fazer para ajudar as nossas crianças?

Como mãe gostaria que meu filho tivesse uma infância tão feliz como a minha, porém, sou consciente de que não lhe posso dar algo igual. O poema e a imagem que aparecem nesse post, foram feitos por mim para lembrar-me sobre a minha responsabilidade quanto à felicidade do meu filho. E para que isso não caísse no esquecimento, coloquei a imagem num quadro e a pendurei na parede, em frente da minha mesa de trabalho.

Meu escritorio

Outra coisa que fizemos (meu marido e eu) foi criar algumas regras de conduta que nos ajudariam a não manter nosso filho em uma jaula:

1 – A educação do nosso filho é nossa responsabilidade: Hoje em dia a maioria dos pais delega ao estado a responsabilidade sobre a educação de seus filhos. O colégio é um apoio, porém, como pais decidimos estar sempre envolvidos na sua educação, essa é nossa responsabilidade. Dessa forma, nosso pequeno passa no colégio somente o tempo essencial e obrigatório.

2 – Brincar sem outras pretensões: Brincar por brincar, fazendo suas escolhas, bagunçando toda a casa se é necessário (com a responsabilidade de organizar seus brinquedos depois que termine de brincar).

3 – Ir ao parque: não temos jardim, e nosso edifício não tem área de jogos, por isso nos esforçamos por levá-lo ao parque com frequência. Ali pode brincar com outras crianças, inventar mundos entre as árvores e despertar sua imaginação.

4 – Atividade extraescolar limitada: decidimos que somente lhe matricularemos em uma atividade extraescolar, a qual será escolhida levando em conta as suas preferências.

5 – Brincar com a imaginação e reforçar a concentração: Nosso pequeno tem dificuldade em concentrar-se, por isso utilizamos jogos lúdicos que fomentam a concentração (ludo, jogo da velha, Oca etc.), além disso buscamos fazer trabalhos manuais em família e criamos nossas próprias histórias infantis.

Sou consciente, que tentando ser bons pais já cometemos muitos erros. Muitos dias serão duros outros nem tanto, porém nunca desistiremos de dar o melhor, para que o nosso filho sinta-se amado da mesma forma como nos sentimos amados pelo nosso Criador.

Se você entende o Espanhol, recomendo que veja esse vídeo:

Seria ótimo receber a sua opinião ou sugestão. A Caixa de Imaginação é um instrumento de comunicação bilateral, sinta-se a vontade para fazer parte do nosso canal. 😉

Não quero flores.

(Para leer esta publicación en Español pincha: No quiero flores)

Quando eu fechar meus olhos,
será o mais natural possível,
Sem mágoas, remorsos
ou arrependimentos.

Quando apagar-se a luz
da minha vida neste corpo,
Não quero que lágrimas
sejam derramadas sobre
a matéria que se fará presente.
Não espero lamentações nem dor.

Quando meu espírito deixar meu corpo, e
meus olhos não brilharem mais,
ou sorriso não existir mais em minha face,
não se entristeçam por isso.
Eu fui para o meu Criador.

Não quero coroas caras,
não deixem que as flores
sejam sepultadas comigo,
Não as matem por mim.
Deixem-nas viverem
até que o sol as queimem
e elas sequem e murchem naturalmente.

Porque então, neste dia eu serei
como uma flor seca pelo sol da vida.
Uma flor que um dia nasceu,
deixando que sua raiz se aprofundasse na terra-vida.
Que fez o máximo para deixar o dia
dos que a viam mais alegre e perfumado.

Não chorem pela flor que murchou,
se alegrem pelas lembranças que ela deixou.
(Claudine Bernardes)

a caixa de imaginação
Fotografia e edição: Claudine Bernardes

Essa poesia revela uma verdade que compreendi:  “Sou viajante com pé na estrada, um visitante com hora marcada”. Escuta a linda música da Roberta Spitaletti:

Obrigada por passear pela minha “Caixa de Imaginação“. Se gostou, compartilha com os seus amigos. Para receber minhas publicações, basta clicar em “seguir“. Será um prazer contar com a sua presença e ler seus comentários. 😉

A ilha que sou

(Pincha aquí para leer el texto en Español: La Isla que soy)

Jacarandá flor lilás a caixa de imaginação
Ilustração: Claudine Bernardes

Sou uma pequena ilha,
vivendo na solidão
do seu micro-clima,
afogando-me cada dia.

Sou uma pequena ilha,
que caminha pela rua,
alheia à dor do próximo,
insensível a tudo que não seja
minha própria necessidade.

Sou uma pequena ilha,
árida, seca e vazia,
que mata de fome e sede
a todo o que se atreva a visitar-me.

Sou uma pequena ilha
que se afoga e se perde.
Cada dia minguando,
afundando no oceano da vida.
Até quando serei uma ilha?

Claudine Bernardes

Lembre-se que A Caixa de Imaginação é o nosso instrumento de comunicação, por isso espero seus comentários e sugestões. 😉

Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho te dou…

(Para leer la publicación en Español pincha en: No tengo plata ni oro, pero lo que tengo te doy)

Emily Dickenson a Caixa de Imaginação
Fotografia e edição: Claudine Bernardes

Não me omitirei

Serei o martelo que golpeia a tua consciência
Te perseguirei pelas ruas e gritarei teu crime,
Te incomodarei de mil maneiras, não te darei paz.

Quanto te olhes no espelho, serei o teu reflexo,
te apontarei o dedo e te chamarei covarde,
covarde por viver só para ti, covarde por não agir,
por pensar que o pouco que faria não seria nada;
quando o teu “nada” poderia ser o tudo para alguém.

Publicarei nos jornais tua cruel omissão,
porque tuas palavras vazias e teu olhar de pena,
não alimentam a fome dos flagelados do mundo.

Te caçarei no cinema, nas lojas, na academia,
em todos os lugares onde alimentas a tua futilidade.
Te farei lembrar da mão estendida, do prato vazio,
das noites escuras de outros, que dormem sem teto,
que já não têm mais lágrimas para derramar.
(Claudine Bernardes)

a caixa de imaginação

Hoje quero falar sobre ajuda humanitária.

Interessante como nos sentimos comovidos quando vemos imagens de pessoas sendo afetadas pela guerra, a fome e as diferentes agruras que passam os seres humanos. Porém, o quê estamos fazendo a respeito? A maioria, NADA. NADA de NADA. Se cada um de nós fizesse um mínimo esforço por ajudar, mitigaríamos grandemente a dor de outros. É então quando surgem as desculpas:

Estou sem trabalho“. “Não tenho nem pra mim, como vou dar para outro!?” “Não posso fazer nada, nem consigo chegar com dignidade ao final de mês.”

Escuto essas babaquices egocêntricas e penso blábláblá… eu não… eu que… pobre de mim… Eu e meus problemas sempre como centro do mundo. Há pessoas que realmente estão MORRENDO de fome. Falemos sobre os refugiados em Síria. Conforme a UNICEF, 14 (QUATORZE) milhões de crianças estão sendo afetadas pelo conflito na Síria. Essas crianças, além dos adultos e idosos, necessitam da nossa ajuda. No Brasil existem 1,3 milhões de crianças e adolescente que trabalham, conforme Unicef.  Está também a crise de fome na África, que  já atingiu cerca de 12,5 milhões de pessoas incluindo principalmente crianças. Pensas que estou sendo negativa? Ao contrário, só busco despertar a consciência do maior número de pessoas. Se consigo uma única pessoa que atue em consequência, me sentirei vitoriosa, do contrário ainda assim sei que estou fazendo a minha parte. Agora vou te mostrar uma iniciativa para angariar fundos para Siria e depois te darei uma séria de ideias que tu podes desenvolver para que faças a tua parte.

ajuda humanitaria a caixa de imaginação
Foto de arquivo. Evento para angariar fundos.

No dia 31 de outubro (sábado passado) realizamos uma “merienda misionera”. Mais duzentas pessoas nos reunimos para angariar fundos para os refugiados de Siria. Essa foi uma iniciativa do departamento de missões da “igreja” que frequento (Centro Cristiano de Castellón). A organização era simples:

  • Uma tarde com apresentações de teatro, música e dança,
  • Venda de lanches (sanduíche e refrigerante),
  • Concurso de tortas e posterior venda das mesmas,
  • Venda de artesanatos,
  • Exposição e venda de quadros.

Não tenho ouro 3Nāo tenho ouro foto 2

Esses quadros são o resultado de uma oficina sobre criatividade que realizei com o grupo de jovens da igreja. Eles fizeram diversas fotografias e escreveram microcontos. Depois enquadrei tudo e montei a exposição. A maioria dos participantes foram adolescentes, sem trabalho e sem condições de doar nada, a parte do seu tempo e criatividade. Vendemos todos os quadros e eles se sentiram muito bem por poder ajudar aos refugiados através do seu trabalho. Por outro lado, como experiência pessoal posso dizer que me senti muito realizada porque consegui atingir dois objetivos:

  •  Ser ponto de partida: Consegui que um grupo de jovens e adolescentes colocassem em prática a criatividade e descobrissem talentos.
  • Ajudar os refugiados: Consegui promover a arrecadação de fundos para  os refugiados de Síria (ainda que o valor monetário não seja elevado).

Se eu puder aliviar o sofrimento de uma vida, ou se conseguir ajudar um passarinho que está fraco a encontrar o ninho… A vida terá valido a pena. (Emily Dickinson)

Faça a sua parte:

Agora vou anotar uma série de ações que podem despertar em você alguma ideia para ajuda humanitária:

Use os teus talentos:

Cada um de nós tem ao menos um talento, alguns possuem vários. Cantar, dançar, escrever, desenhar etc.

  1. Escrever: Nestes últimos dois meses conheci uma grande quantidade de pessoas aqui na blogsfera que possuem o talento de escrever. Se conhecer a pessoas que gostam de escrever, você pode montar um grupo de escritores que queiram editar um livro de poesia, contos, crônicas, micro-contos. Esse livro pode ser vendido em Amazon ou outra plataforma de venda de livros. Tudo isso sem gastos e o que se arrecade pode ser doado a alguma organização de ajuda humanitária.
  2. Desenho e fotografia: Não é necessário ser um grande ilustrador ou um fotógrafo famoso para fazer algo. Veja o meu exemplo, com alguns quadros, fotografias, ilustrações, textos de adolescentes, conseguimos arrecadar fundos. Você pode organizar uma exposição na escola onde estuda ou dá aula; através de uma associação; em alguma igreja, ou dentro de outro evento (como foi o meu caso).
  3. Organize um Evento: Como você viu não se necessita muito, e há muita gente com vontade de participar de coisas assim. Convide um grupo de pessoas que goste de teatro ou um grupo de teatro local; entre em contato com uma escola de dança para que faça uma apresentação; convide artistas locais que queiram doar e expor seus trabalhos.
  4. O dom de animar: Talvez você é esse tipo de pessoa com o dom da palavra, que outros escutam e buscam conselho. Anime outras pessoas a serem ativas na tarefa da ajuda humanitária.
  5. Seja um instrumento de divulgação: Divulgue campanhas de ajuda humanitária nos meios sociais onde você se move. Seja a voz dessas pessoas esquecidas.

Antes de terminar deixo a música “Onde está o seu amor?” da Lorena Chaves. É bastante apropriada para esse momento:

https://www.youtube.com/watch?v=4GetPPCPCDQ&list=PLYmntDPYDPWdY6EioYJYTQnD0g-6gHsip

Se você tem outras sugestões de coisas que se possam fazer, anote nos comentários e eu as colocarei no texto informando que se trata de uma sugestão sua. Estou aberta a ideias e aceito desafios de ações para desenvolver em conjunto. O único que não aceito é a omissão. (A Caixa de Imaginação)

Meu presente para Drummond.

(Para leer el texto en Español pincha: 31 de Octubre, el día de Drummond)

carlos drummond de andrade

Já sei! Estou uns dias atrasada, mas como prometi cumprir a minha semana de homenagem à Drummond, não poderia deixar de colocar um último post (que deveria ter subido no sábado 31), com um presente para ele.

Carlos Drummond de Andrade é um poeta que me inspira muito e o seu poema que mais gosto é “José”. Drummond tem o seu José e eu tenho a minha “Maria” e com esse poema que escrevi, quero homenagear o meu poeta preferido. Espero que gostem:

As lembranças de Maria

O que foi Maria?
Estás só?
Não tens com quem falar?
Quem imaginaria que um dia,
isso te podia passar.

Dizem que aos filhos
devemos criá-los para o mundo.
Para que possam as oportunidades aproveitar.
Mas, onde estava o mundo,
quando os teus cinco filhos tiveram catapora,
e tu sozinha os cuidaste,
passando as noites em claro?

Ah, Maria! Me das pena.
A vida mudou,
não há ninguém ao teu lado.
Estás velha, doente e sozinha,
e ninguém quer te cuidar.

Lembras quando eras
o centro das atenções?
Quando o mundo
giraba ao teu redor?
Naqueles tempos eras feliz
e não sabias, Maria.

Barulho por toda a casa,
as crianças te seguindo por todos os lados,
te faziam mil perguntas,
como se tivesses todas as respostas.
Estavas sempre ocupada,
muitas vezes te sentias agoniada,
e até em desaparecer pensavas.

Lembras como eras forte,
decidida e cheia de vida?
Sei que lembras Maria.
Porque o único que te resta,
o que te faz companhia,
são as lembranças da tua antiga vida.
(Claudine Bernardes)

Sei que “José” é um poema muito conhecido, porém não poderia deixar de colocá-lo nesta publicação.

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Escutar a poesia interpretada pelo seu autor é um privilégio. E Carlos Drummond de Andrade nos deu um presente duplo ao escrever e declamar esse poema. José, na voz de Drummond:

“José” também virou música na voz de Paulo Diniz:

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Com isso terminamos oficialmente a semana de Homenagem à Drummond da “A Caixa de Imaginação“. Obrigado pela sua companhia e faça os seus comentários. Será um prazer e uma alegria respondê-los.