A ilha que sou

(Pincha aquí para leer el texto en Español: La Isla que soy)

Jacarandá flor lilás a caixa de imaginação
Ilustração: Claudine Bernardes

Sou uma pequena ilha,
vivendo na solidão
do seu micro-clima,
afogando-me cada dia.

Sou uma pequena ilha,
que caminha pela rua,
alheia à dor do próximo,
insensível a tudo que não seja
minha própria necessidade.

Sou uma pequena ilha,
árida, seca e vazia,
que mata de fome e sede
a todo o que se atreva a visitar-me.

Sou uma pequena ilha
que se afoga e se perde.
Cada dia minguando,
afundando no oceano da vida.
Até quando serei uma ilha?

Claudine Bernardes

Lembre-se que A Caixa de Imaginação é o nosso instrumento de comunicação, por isso espero seus comentários e sugestões. 😉

Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho te dou…

(Para leer la publicación en Español pincha en: No tengo plata ni oro, pero lo que tengo te doy)

Emily Dickenson a Caixa de Imaginação
Fotografia e edição: Claudine Bernardes

Não me omitirei

Serei o martelo que golpeia a tua consciência
Te perseguirei pelas ruas e gritarei teu crime,
Te incomodarei de mil maneiras, não te darei paz.

Quanto te olhes no espelho, serei o teu reflexo,
te apontarei o dedo e te chamarei covarde,
covarde por viver só para ti, covarde por não agir,
por pensar que o pouco que faria não seria nada;
quando o teu “nada” poderia ser o tudo para alguém.

Publicarei nos jornais tua cruel omissão,
porque tuas palavras vazias e teu olhar de pena,
não alimentam a fome dos flagelados do mundo.

Te caçarei no cinema, nas lojas, na academia,
em todos os lugares onde alimentas a tua futilidade.
Te farei lembrar da mão estendida, do prato vazio,
das noites escuras de outros, que dormem sem teto,
que já não têm mais lágrimas para derramar.
(Claudine Bernardes)

a caixa de imaginação

Hoje quero falar sobre ajuda humanitária.

Interessante como nos sentimos comovidos quando vemos imagens de pessoas sendo afetadas pela guerra, a fome e as diferentes agruras que passam os seres humanos. Porém, o quê estamos fazendo a respeito? A maioria, NADA. NADA de NADA. Se cada um de nós fizesse um mínimo esforço por ajudar, mitigaríamos grandemente a dor de outros. É então quando surgem as desculpas:

Estou sem trabalho“. “Não tenho nem pra mim, como vou dar para outro!?” “Não posso fazer nada, nem consigo chegar com dignidade ao final de mês.”

Escuto essas babaquices egocêntricas e penso blábláblá… eu não… eu que… pobre de mim… Eu e meus problemas sempre como centro do mundo. Há pessoas que realmente estão MORRENDO de fome. Falemos sobre os refugiados em Síria. Conforme a UNICEF, 14 (QUATORZE) milhões de crianças estão sendo afetadas pelo conflito na Síria. Essas crianças, além dos adultos e idosos, necessitam da nossa ajuda. No Brasil existem 1,3 milhões de crianças e adolescente que trabalham, conforme Unicef.  Está também a crise de fome na África, que  já atingiu cerca de 12,5 milhões de pessoas incluindo principalmente crianças. Pensas que estou sendo negativa? Ao contrário, só busco despertar a consciência do maior número de pessoas. Se consigo uma única pessoa que atue em consequência, me sentirei vitoriosa, do contrário ainda assim sei que estou fazendo a minha parte. Agora vou te mostrar uma iniciativa para angariar fundos para Siria e depois te darei uma séria de ideias que tu podes desenvolver para que faças a tua parte.

ajuda humanitaria a caixa de imaginação
Foto de arquivo. Evento para angariar fundos.

No dia 31 de outubro (sábado passado) realizamos uma “merienda misionera”. Mais duzentas pessoas nos reunimos para angariar fundos para os refugiados de Siria. Essa foi uma iniciativa do departamento de missões da “igreja” que frequento (Centro Cristiano de Castellón). A organização era simples:

  • Uma tarde com apresentações de teatro, música e dança,
  • Venda de lanches (sanduíche e refrigerante),
  • Concurso de tortas e posterior venda das mesmas,
  • Venda de artesanatos,
  • Exposição e venda de quadros.

Não tenho ouro 3Nāo tenho ouro foto 2

Esses quadros são o resultado de uma oficina sobre criatividade que realizei com o grupo de jovens da igreja. Eles fizeram diversas fotografias e escreveram microcontos. Depois enquadrei tudo e montei a exposição. A maioria dos participantes foram adolescentes, sem trabalho e sem condições de doar nada, a parte do seu tempo e criatividade. Vendemos todos os quadros e eles se sentiram muito bem por poder ajudar aos refugiados através do seu trabalho. Por outro lado, como experiência pessoal posso dizer que me senti muito realizada porque consegui atingir dois objetivos:

  •  Ser ponto de partida: Consegui que um grupo de jovens e adolescentes colocassem em prática a criatividade e descobrissem talentos.
  • Ajudar os refugiados: Consegui promover a arrecadação de fundos para  os refugiados de Síria (ainda que o valor monetário não seja elevado).

Se eu puder aliviar o sofrimento de uma vida, ou se conseguir ajudar um passarinho que está fraco a encontrar o ninho… A vida terá valido a pena. (Emily Dickinson)

Faça a sua parte:

Agora vou anotar uma série de ações que podem despertar em você alguma ideia para ajuda humanitária:

Use os teus talentos:

Cada um de nós tem ao menos um talento, alguns possuem vários. Cantar, dançar, escrever, desenhar etc.

  1. Escrever: Nestes últimos dois meses conheci uma grande quantidade de pessoas aqui na blogsfera que possuem o talento de escrever. Se conhecer a pessoas que gostam de escrever, você pode montar um grupo de escritores que queiram editar um livro de poesia, contos, crônicas, micro-contos. Esse livro pode ser vendido em Amazon ou outra plataforma de venda de livros. Tudo isso sem gastos e o que se arrecade pode ser doado a alguma organização de ajuda humanitária.
  2. Desenho e fotografia: Não é necessário ser um grande ilustrador ou um fotógrafo famoso para fazer algo. Veja o meu exemplo, com alguns quadros, fotografias, ilustrações, textos de adolescentes, conseguimos arrecadar fundos. Você pode organizar uma exposição na escola onde estuda ou dá aula; através de uma associação; em alguma igreja, ou dentro de outro evento (como foi o meu caso).
  3. Organize um Evento: Como você viu não se necessita muito, e há muita gente com vontade de participar de coisas assim. Convide um grupo de pessoas que goste de teatro ou um grupo de teatro local; entre em contato com uma escola de dança para que faça uma apresentação; convide artistas locais que queiram doar e expor seus trabalhos.
  4. O dom de animar: Talvez você é esse tipo de pessoa com o dom da palavra, que outros escutam e buscam conselho. Anime outras pessoas a serem ativas na tarefa da ajuda humanitária.
  5. Seja um instrumento de divulgação: Divulgue campanhas de ajuda humanitária nos meios sociais onde você se move. Seja a voz dessas pessoas esquecidas.

Antes de terminar deixo a música “Onde está o seu amor?” da Lorena Chaves. É bastante apropriada para esse momento:

https://www.youtube.com/watch?v=4GetPPCPCDQ&list=PLYmntDPYDPWdY6EioYJYTQnD0g-6gHsip

Se você tem outras sugestões de coisas que se possam fazer, anote nos comentários e eu as colocarei no texto informando que se trata de uma sugestão sua. Estou aberta a ideias e aceito desafios de ações para desenvolver em conjunto. O único que não aceito é a omissão. (A Caixa de Imaginação)

Lugares que me convidam a escrever: Alejandro

(Puedes leer este texto en Castellano: Lugares que invitan a escribir “Alejandro”)

Alejandro dormindo

Dorme, meu coração, porque enquanto sonhas velarei por ti. Estás tão sereno que ninguém diria que acordado tu és meu tsunami e minha alegria. Segues crescendo, meu amor, mas enquanto eu seja a tua “mamá querida” te guardarei nos meus braços e te encherei de carinhos. Já virá o dia em que terás vergonha de fazer-me mostras de afeto em público. Mas ainda assim, te olharei nos olhos e ali, escondido dentro de ti, verei todo o amor que tens por mim. Descansa entre sonhos, minha vida, e perdoa-me por todos os erros que cometi pelo caminho. Eu sei que foram muitos! No entanto, se há algo que possa dizer em minha defesa, é que me equivoquei, não por amar pouco, sim por amar intensamente e desejar que fosses o melhor de mim. Ah, “mi niño”! Não entendo como pudeste transformar toda minha vida em tão pouco tempo. Me mostraste que me falta paciência, me sobra intolerância e ainda assim me amas. Sigo aprendendo, “cariño”, porque contigo estou no caminho… espero caminhar ao teu lado durante muitos anos. Dorme, meu coração.

Alejandro piscina

Oceano

Se há um lugar que me convida a escrever, e onde encontro inspiração, esse lugar é o meu filho. Talvez você dirá que pessoas não são lugares, no entanto terei que discordar. Todas as pessoas somos lugares! Há pessoas que são oásis, enquanto outras são deserto; há pessoas lar, pousada, parada de descanso; há também pessoas ponto de partida, estão as que são ilhas enquanto outras são pontes. Alejandro é um oceano, onde às vezes sinto que me afogo por não saber nadar. É tão belo em seu azul infinito, porém no mesmo lugar onde reina beleza e calma também há tempestade e perigosos monstros marinhos. Às vezes observo meu reflexo nas suas águas e vejo que o monstro sou eu. Não é fácil ser mãe, entretanto é inspirador. Os sentimentos que experimentei, durante estes últimos cinco anos, mudaram minha forma de ver o mundo, de ver-me e de compreender as outras pessoas. Tudo isso me motivou a escrever. Não só isso! Despertou a escritora adormecida. Estou agradecida a Deus por ter colocado esse pequeno furacão na minha vida, porque nele eu vi o quanto me sobra e o quanto me falta. Te amo meu oceano!

Alejandro Paola

E para terminar, deixo umas frases que extraí de uma entrevista da grande escritora Isabel Allende. Nesse trecho ela fala sobre o processo criativo, espero que goste:

“O processo criativo é misterioso e passa num lugar do corpo e da mente ao qual não temos acesso na vida consciente. Por que uma pessoa quer escrever sobre um tema em particular? Porque é o momento. Para escrever minha primeira novela demorei 39 anos. (…)

Se vai gestando como um bebê e chega o momento em que a história está madura para nascer. Esse momento ninguém pode determinar, pode ser cinco anos, pode ser cinco minutos. (…)

Há momentos na vida que são umbral (entrada, limiar). A adolescência é um umbral (…) também está o momento em que uma mulher dá a luz e nascem os filhos. Quando a pessoa se transforma em pai ou mãe. Porque entra em outra etapa da vida.”

Lembre-se que A Caixa de Imaginação é um canal de comunicação, por isso estou esperando os seus comentários. Até breve!

Meu presente para Drummond.

(Para leer el texto en Español pincha: 31 de Octubre, el día de Drummond)

carlos drummond de andrade

Já sei! Estou uns dias atrasada, mas como prometi cumprir a minha semana de homenagem à Drummond, não poderia deixar de colocar um último post (que deveria ter subido no sábado 31), com um presente para ele.

Carlos Drummond de Andrade é um poeta que me inspira muito e o seu poema que mais gosto é “José”. Drummond tem o seu José e eu tenho a minha “Maria” e com esse poema que escrevi, quero homenagear o meu poeta preferido. Espero que gostem:

As lembranças de Maria

O que foi Maria?
Estás só?
Não tens com quem falar?
Quem imaginaria que um dia,
isso te podia passar.

Dizem que aos filhos
devemos criá-los para o mundo.
Para que possam as oportunidades aproveitar.
Mas, onde estava o mundo,
quando os teus cinco filhos tiveram catapora,
e tu sozinha os cuidaste,
passando as noites em claro?

Ah, Maria! Me das pena.
A vida mudou,
não há ninguém ao teu lado.
Estás velha, doente e sozinha,
e ninguém quer te cuidar.

Lembras quando eras
o centro das atenções?
Quando o mundo
giraba ao teu redor?
Naqueles tempos eras feliz
e não sabias, Maria.

Barulho por toda a casa,
as crianças te seguindo por todos os lados,
te faziam mil perguntas,
como se tivesses todas as respostas.
Estavas sempre ocupada,
muitas vezes te sentias agoniada,
e até em desaparecer pensavas.

Lembras como eras forte,
decidida e cheia de vida?
Sei que lembras Maria.
Porque o único que te resta,
o que te faz companhia,
são as lembranças da tua antiga vida.
(Claudine Bernardes)

Sei que “José” é um poema muito conhecido, porém não poderia deixar de colocá-lo nesta publicação.

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Escutar a poesia interpretada pelo seu autor é um privilégio. E Carlos Drummond de Andrade nos deu um presente duplo ao escrever e declamar esse poema. José, na voz de Drummond:

“José” também virou música na voz de Paulo Diniz:

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Com isso terminamos oficialmente a semana de Homenagem à Drummond da “A Caixa de Imaginação“. Obrigado pela sua companhia e faça os seus comentários. Será um prazer e uma alegria respondê-los.

A Semana de Drummond

homenagem de Claudine bernardes a Carlos Drummond

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente
(Carlos Drummond de Andrade)

Não, amigo, não terei a ousadia de apresentar a Carlos Drummond de Andrade. Drummond dispensa apresentações. No entanto, não poderia deixar passar esta semana sem fazer-lhe minha homenagem. Drummond é meu poeta favorito, e acompanha-me desde minha adolescência. Memorizei vários poemas seus! Inclusive o primeiro post deste blog citava esse grande poeta (O Caminho e a Pedra). Dia 31 de outubro é o dia dele (esqueçam desse horrendo Halloween), é dia de comemorar a vida de Drummond, sua obra e o que herdamos dele. Viva a Drummond!

Drummond 4

Escute uma bela interpretação do seu poema “Mãos dadas”:

Comente esse post e diga-me qual é o seu poema, conto, história preferido de Drummond.  Espero notícias suas. (Para leer ese post en Español pincha: La Semana de Drummond)