Dia Internacional do livro infantil

(Para leer el texto en español pincha en: Día del libro infantil)

1 andersen

Não podia deixar de comemorar o Dia Internacional do Livro Infantil, que se celebra cada ano no dia 2 de Abril, desde 1967.  Se celebra todos los años el día 2 de Abril, desde el año de 1967. Essa data foi escolhida em homenagem ao escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. 

Agora deixo um dos tantos contos de Andersen e depois veremos um pouco da sua  biografia.

A princesa e a ervilha

Era uma vez um príncipe que queria se casar com uma princesa; mas ela tinha que ser uma princesa de verdade. Ele viajou por todo o mundo para encontrar uma, mas em lugar algum ele conseguiu encontrar o que ele queria. Havia muitas princesas, mas era muito difícil descobrir se elas eram verdadeiras. Havia sempre algumas coisas nelas que não eram como deviam ser. Então ele voltou para casa novamente e ficou triste, porque ele gostaria muito de encontrar uma princesa de verdade.

Uma noite caiu uma forte tempestade acompanhada de trovões e raios, e a chuva caía torrencialmente. De repente alguém bateu no portão de entrada da cidade, e o velho rei foi abrí-lo.

Era uma princesa que ali estava em frente ao portão. Mas, que pena! a visão que a chuva e o vento fizeram dela. A água caía de seus cabelos e das roupas; e escorriam até os dedos dos seus sapatos e chegavam até o calcanhar. No entanto, ela dizia que ela era uma princesa de verdade.

“Bem, logo descobriremos,” pensou a velha rainha. Mas ela não disse nada, foi para o quarto, tirou todos os utensílios que estavam na cabeceira da cama, e colocou uma ervilha no fundo; depois ela pegou vinte travesseiros e os colocou em cima de uma ervilha, e depois colocou vinte edredões em cima desses travesseiros.

A princesa teria de dormir em cima deles a noite toda. Ao amanhecer, lhe perguntaram como ela tinha dormido.

“Oh, muito mal!” disse ela. “Nem sequer consegui fechar os olhos a noite toda. Deus sabe lá o que havia na cama, mas eu estava deitada em cima de alguma coisa muito dura, então eu fiquei com o corpo todinho marcado. Foi horrível!”

E foi assim que eles descobriram que ela era uma princesa de verdade porque ela havia sentido a ervilha através dos vinte travesseiros e dos vinte edredões.

Ninguém, exceto uma princesa de verdade poderia ser tão sensível como ela.

Então o príncipe a tomou como esposa, pois agora ele sabia que ela era uma princesa de verdade; e a ervilha ficou exposta num museu, onde ela poderia ser vista, se ninguém a roubasse. Essa sim que é uma história de verdade!

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Conhecendo um pouco sobre Hans Christian Andersen

Na sua autobiografia titulada “O conto de fadas de minha vida“, o escritor dinamarquês (1805-1875) afirma que a sua mãe, lavadeira, era uma mulher instruída. Seu pai, por outra parte, era um sapateiro com muita imaginação poética, que sempre presenteava seu filho com livros que este devorava. Andersen sempre foi um menino solitário que nunca brincava com outros meninos. Seus companheiros e amigos eram os livros. A infância de Andersen foi marcada pela miséria e problemas psicológicos. Quando tinha 11 anos seu pai morreu e ele teve que abandonar os estudos e começar a trabalhar para poder sobreviver. Foi ajudante de alfaiate, trabalhou numa fábrica de cigarros, até que começou a trabalhar em um teatro. Primeiro trabalhou com fantoches, dançou e cantou (tinha uma linda voz de soprano).  Entretanto com a juventude a sua voz mudou e Andersen começou a escrever (obras de teatro, poemas, novelas).

Aos 24 anos entrou na Universidade de Copenhague e começou a ser reconhecido como dramaturgo e poeta. Apesar de ter escrito muitas novelas, poemas e obras teatrais, Andersen realmente passou a ser conhecido pela sua magnífica coleção de contos de fadas publicada entre 1835 e 1872. Tenho certeza que você já escutou falar de varios contos de Andersen, entre os quais encontramos:

 

Te animo a contar contos às crianças que você conhece. Os contos enriquecem a imaginação das crianças e ajudam a criar ferramentas psicológicas para que elas enfrentem as situações da vida.

Um grande abraço e até breve!

Homenagem a Castro Alves

(Para leer el texto en Español pincha en: Castro Alves)

Castro Alves Frases portugues.jpg

Hoje é 14 de Março, aniversário do grande poeta Castro Alves, por essa razão deixo aqui registrada minha homenagem. É incrível como ele fala do amor com tanta delicadeza, no entanto suas palavras se transformam em fogo ardente quando são expressão da sua luta contra a escravidão. Umas e outras são belas, e devem ecoar hoje. Parabéns Castro Alves!

Adormecida – Castro Alves

Uma noite, eu me lembro… Ela dormia
Numa rede encostada molemente…
Quase aberto o roupão… solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina…
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.

Era um quadro celeste!… A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia…
Quando ela serenava… a flor beijava-a…
Quando ela ia beijar-lhe… a flor fugia…

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças…
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se…
Mas quando a via despeitada a meio,
P’ra não zangá-la… sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio…

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! — tu és a virgem das campinas!
“Virgem! — tu és a flor da minha vida!…”

 

Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho, 14 de março de 1847 – Salvador, 6 de julho de 1871). Foi um dos mais importantes poetas brasileiros. Disse uma vez: “Considero-me um poeta. Integrado no meu tempo. Cantei a natureza, a mulher, o amor e vivi a causa do meu século: entreguei-me inteiro à causa dos escravos”. Castro Alves viveu pouco, porém, intensamente. É patrono da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras. O poeta, que sofria de tuberculose, morreu prematuramente aos 24 anos. A cidade onde nasceu, hoje, chama-se Castro Alves.

 

Deixo também dois excelentes exemplos da sua poesia mais social, expressão e luta contra a escravidão:

 

 

Você já conhecia essas poesias de Castro Alves? Espero que tenha gostado. Até logo 🙂

Apatia, empatia, simpatia, compartia e outras tias.

(Para leer el texto en español pincha en: Empatía)

Apatia, simpatia, compartia, empatia, e outras tias.

A jovem caminhava com passos firmes e constantes pelo centro da cidade, quando observou uma multidão gritando com cartazes nas mãos. Aproximou-se do grupo com a mesma determinação que sempre a acompanhava e ficou escutando suas demandas por um salário e condições laborais mais dignas. Sempre sentiu simpatia pela situação dos profesores, por isso resolveu ficar um pouco mais.  .

_ Vocês acham que recebemos um salário digno? – Perguntou um professor com o microfone nas mãos.

_ Não! – Responderam todos em uníssono .

_ Vocês acham que somos tratados com respeito?

_ Não! – Responderam outra vez, somando-se, entretanto, a voz firme e potente da jovem, que naquele momento já compartia a indignação do grupo.

_  Os políticos deven saber que existimos, que somos essenciais para a sociedade, e que não nos deixaremos massacrar por eles.

_ Isso mesmo! – gritou a jovem, pulando no meio da multidão.

_ Por que não invadimos a prefeitura? Devemos exigir uma solução para já. Chega de esperar. Vamos já! – Deixando o microfone de lado, o homem saiu correndo seguido da multidão e também da jovem, que naquele momento só pensava em “conquistar o mundo”.

Decidida a ser escutada a multidão invadir a prefeitura, provocando grande confusão entre os funcionários, que não tiveram tempo de frear a avalanche de pessoas. Sem encontrar resistência o grupo instalou-se no plenário, exigindo a imediata presença do prefeito. E ali estava ela, a jovem determinada que desconhecia a palavra apatia.  Gritava com tanta garra e movia-se com tanta soltura, que ninguém imaginou tratar-se de “um corpo estranho”. Por algum motivo que ela desconhecia, corria pelas suas veias a mesma indignação sentida por aqueles  desconhecidos.

_ Você acha que o prefeito virá aqui? –  Perguntou uma senhora de óculos, com voz duvidosa, sentada ao seu lado.

_ Não sei se ele terá coragem. Mas se ele não tiver, nós devemos invadir a sua sala. – Respondeu a jovem sem duvidar em fazê-lo se fosse necessário.

_ Puxa, que determinação você tem! Eu não sou assim. Aliás, só estou aqui porque todos os professores do colégio onde dou aula também vieram. Em qual colégio você trabalha?

_ Ah! Eu não sou professora. Estava passando pela rua e como sentia simpatia por vocês, me deixei levar.  – Enquanto a senhora de óculos olha perplexa à jovem, esta sobressaltava-se ao olhar o relógio.  – Puxa! Que tarde é! Tenho que ir embora antes que fechem o correio.

Levantou rapidamente e caminhou pelo corredor carregando consigo toda determinação que a caracterizava.


Agora diga-me: Você encontrou a empatia?

Espero que sim. Resolvi compartilhar esse texto, porque acredito na importância de fazer crescer dentro de nós a EMPATIA. Devemos exercitar constantemente essa capacidade de colocar-se no lugar do outro, ver as coisas através dos seus olhos e sentir com os seus sentidos.

A empatia é uma arma muito poderosa para combater o egoísmo e o preconceito. 

(A capacidade de colocar-se no lugar do outro é uma das funções mais importantes da inteligência. Demostra o gral de maturidade do ser humano.

Empatia por Augusto Cury

Esse texto que escrevi está baseado em uma situação real e é uma homenagem à minha irmã Francine, uma mulher determinada e cheia de empatia.

Se você quer ler mais sobre a empatia, deixo outro texto onde falo sobre os Neurônios Espelho e a sua relação com a empatia.

Lembre-se que “A Caixa de Imaginação” é um instrumento de comunicação bilateral. Será um prazer ler e responder aos seus comentários. Obrigada por passar por aqui e até logo.

Homenagem a Lêdo Ivo

(Para leer el texto en Español pincha en: Homenaje a Ledo Ivo)

homenagem a caixa de imaginação
Lêdo Ivo.

Precauções inúteis
Lêdo Ivo

Quem tapa minha boca
não perde por esperar
o silêncio de agora
amanhã é voz rouca
de tanto gritar.

Quem tapa meus olhos
nada esconde de mim
Sei seu nome e o seu rosto,
o lugar que estou
sua noite sem fim.

quem tapa meus ouvidos
me faz escutar mais
Igualei-me às muralhas
e o silêncio mais fundo
guarda o rumor do mundo.

Quem me quer sem memória
erra redondamente.
Lembro-me de tudo
e, cego, surdo e mudo
até do esquecimento.

E quem me quer defunto
confunde verão com inverno.
Morto, sou insepulto.
Homem, sou sempre vivo.
Povo, sou eterno

Hoje é o aniversário de Lêdo Ivo, um dos poetas que marcou minha adolescência. Foi na quinta série, aos 11 anos, no livro Palavras e Ideias, de José de Nicola e Ulisses Infante, onde li pela primeira vez esse maravilhoso poema de Lêdo Ivo. Hoje compartilho com você  essa homenagem.

OS POEMAS

É meu corpo que escreve os meus poemas.
Minha alma é a sucursal da minha mão.
As palavras me buscam no silêncio.
Palavras são estrelas que reclamam
o papel branco: céu, constelação.

(Lado Ivo)

Lêdo Ivo é jornalista e escritor de prosa e verso. Nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 18 de fevereiro de 1924. Faleceu no dia 23 de dezembro de 2012, aos 88 anos, na Espanha.

Em 1982, Lêdo Ivo foi distinguido com o Prêmio Mário de Andrade, conferido pela Academia Brasiliense de Letras ao conjunto de suas obras. Em 1986, recebeu o Prêmio Homenagem à Cultura, da Nestlé, pela obra poética. Eleito “Intelectual do Ano de 1990”, recebeu o Troféu Juca Pato do seu antecessor nessa láurea, o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns.

Lêdo Ivo é considerado uma das figuras de maior destaque na moderna literatura brasileira, notadamente na poesia. Seu romance Ninho de cobras (1973) foi traduzido para o inglês, sob o título “Snakes’ Nest”, e em dinamarquês, sob o título“Slangeboet”. No México, saíram várias coletâneas de seus poemas, entre as quais “La imaginaria ventana abierta”, “Oda al crepúsculo”, “Las pistas e Las islas inacabadas”. Em Lima, Peru, foi editada uma antologia, “Poemas”, e na Espanha saiu a antologia “La moneda perdida”.

Eleito em 13 de novembro de 1986 para a Academia Brasileira de Letras, Cadeira nº 10, sucedendo a Orígenes Lessa, foi recebido em 7 de abril de 1987, pelo acadêmico Dom Marcos Barbosa.

Vamos a alguns videos:

 

 

 

Frase Ledo Ivo

E essa foi a homenagem de “A Caixa de Imaginação” a Lêdo Ivo. Até logo 😉

Meu presente para Drummond.

(Para leer el texto en Español pincha: 31 de Octubre, el día de Drummond)

carlos drummond de andrade

Já sei! Estou uns dias atrasada, mas como prometi cumprir a minha semana de homenagem à Drummond, não poderia deixar de colocar um último post (que deveria ter subido no sábado 31), com um presente para ele.

Carlos Drummond de Andrade é um poeta que me inspira muito e o seu poema que mais gosto é “José”. Drummond tem o seu José e eu tenho a minha “Maria” e com esse poema que escrevi, quero homenagear o meu poeta preferido. Espero que gostem:

As lembranças de Maria

O que foi Maria?
Estás só?
Não tens com quem falar?
Quem imaginaria que um dia,
isso te podia passar.

Dizem que aos filhos
devemos criá-los para o mundo.
Para que possam as oportunidades aproveitar.
Mas, onde estava o mundo,
quando os teus cinco filhos tiveram catapora,
e tu sozinha os cuidaste,
passando as noites em claro?

Ah, Maria! Me das pena.
A vida mudou,
não há ninguém ao teu lado.
Estás velha, doente e sozinha,
e ninguém quer te cuidar.

Lembras quando eras
o centro das atenções?
Quando o mundo
giraba ao teu redor?
Naqueles tempos eras feliz
e não sabias, Maria.

Barulho por toda a casa,
as crianças te seguindo por todos os lados,
te faziam mil perguntas,
como se tivesses todas as respostas.
Estavas sempre ocupada,
muitas vezes te sentias agoniada,
e até em desaparecer pensavas.

Lembras como eras forte,
decidida e cheia de vida?
Sei que lembras Maria.
Porque o único que te resta,
o que te faz companhia,
são as lembranças da tua antiga vida.
(Claudine Bernardes)

Sei que “José” é um poema muito conhecido, porém não poderia deixar de colocá-lo nesta publicação.

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Escutar a poesia interpretada pelo seu autor é um privilégio. E Carlos Drummond de Andrade nos deu um presente duplo ao escrever e declamar esse poema. José, na voz de Drummond:

“José” também virou música na voz de Paulo Diniz:

.

Com isso terminamos oficialmente a semana de Homenagem à Drummond da “A Caixa de Imaginação“. Obrigado pela sua companhia e faça os seus comentários. Será um prazer e uma alegria respondê-los.

O Poeta aos olhos de Drummond

(Para leer el texto en Español pincha: El poeta bajo los ojos de Drummond)

homenagem a Drummond Claudine Bernardes

NOTA SOCIAL

O poeta chega na estação.
O poeta desembarca.
O poeta toma um auto.
O poeta vai para o hotel.
E enquanto ele faz isso
como qualquer homem da terra,
uma ovação o persegue
feito vaia.
Bandeirolas
abrem alas.
Bandas de música. Foguetes.
Discursos. Povo de chapéu de palha.
Máquinas fotográficas assestadas.
Automóveis imóveis.
Bravos…
O poeta está melancólico.

Numa árvore do passeio público
(melhoramento da atual administração)
árvore gorda, prisioneira
de anúncios coloridos,
árvore banal, árvore que ninguém vê
canta uma cigarra.
Canta uma cigarra que ninguém ouve
um hino que ninguém aplaude.
Canta, no sol danado.

O poeta entra no elevador
o poeta sobe
o poeta fecha-se no quarto.
O poeta está melancólico.
(Carlos Drummond de Andrade)

Homenagem a Drummond Claudine Bernardes
Fotografia e edição: Claudine Bernardes

Escute esse lindo poema de Drummond com o sotaque português de José Maria Alves:

Espero os seus comentários. Até breve!

Drummond: Quando a perda se transforma em poesia.

(Para leer el texto en Español pincha: Drummond: Cuando la pérdida se hace poesía)

drummond 7 esposa

O que Viveu Meia Hora

Nascer para não viver
só para ocupar
estrito espaço numerado
ao sol-e-chuva
que meticulosamente vai delindo
o número
enquanto o nome vai-se autocorroendo
na terra, nos arquivos
na mente volúvel ou cansada
até que um dia
trilhões de milênios antes do juízo final
não reste em qualquer átomo
nada de uma hipótese de existência.
(Carlos Drummond de Andrade)

Em 1925 Drummond se casou com Dolores Dutra de Morais, uma moça que conheceu no cinema de Belo Horizonte. No ano seguinte, Dolores dá à luz ao primeiro filho do casal, Carlos Flávio, mas o menino morre meia-hora após o parto, asfixiado pelo cordão umbilical. O poema “O que viveu meia hora” foi escrito por Drummond como da perda. Recuperada, Dolores tem uma segunda gravidez tranquila. Maria Julieta nasce em março de 1928.

Drummond 6 filha
Dolores, Drummond e a Maria Julieta.

No entanto, Drummond ainda guardava dentro a dor da perda do filho e a vontade de ser pai de um filho homem. Esse fato se vê refletido no seu poema Ser.

SER

O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.

Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apóia em meu ombro
seu ombro nenhum.

Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?

Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me percebeste
contudo chamava-te

como ainda te chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.

O filho que não fiz
faz-se por si mesmo.

Você já conhecia essa parte da biografia de Carlos Drummond de Andrade? Já havia lido estas poesias antes? Espero notícias suas. Deixe sua opinião, comentários e sugestão. Lembre-se que “A Caixa de Imaginação” é um canal de comunicação bilateral. 😉

A Semana de Drummond

homenagem de Claudine bernardes a Carlos Drummond

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente
(Carlos Drummond de Andrade)

Não, amigo, não terei a ousadia de apresentar a Carlos Drummond de Andrade. Drummond dispensa apresentações. No entanto, não poderia deixar passar esta semana sem fazer-lhe minha homenagem. Drummond é meu poeta favorito, e acompanha-me desde minha adolescência. Memorizei vários poemas seus! Inclusive o primeiro post deste blog citava esse grande poeta (O Caminho e a Pedra). Dia 31 de outubro é o dia dele (esqueçam desse horrendo Halloween), é dia de comemorar a vida de Drummond, sua obra e o que herdamos dele. Viva a Drummond!

Drummond 4

Escute uma bela interpretação do seu poema “Mãos dadas”:

Comente esse post e diga-me qual é o seu poema, conto, história preferido de Drummond.  Espero notícias suas. (Para leer ese post en Español pincha: La Semana de Drummond)