Sui géneris
É exatamente assim que vejo o amor nos poemas de Drummond “sui géneris”. É um amor corriqueiro, do dia a dia, sem tantas palavras floreadas. Não sofre desesperadamente pelo amor perdido, porque compreende que o verdadeiro amor nunca se perde, nunca vai embora e não abandona, porque “amor é bicho instruído”, pula o muro e sobe na árvore, se estrepa e se levanta.
O MUNDO É GRANDE
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Para Drummond o Amor é algo que se vive, não algo que se passa a vida aspirando senti-lo. Amor é graça, presente, um altruísmo.
AS SEM-RAZÕES DO AMOR
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor
O amor era uma temática constante nas poesias de Carlos Drummond de Andrade.
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Agora os deixo com alguns poemas sobre o amor interpretados por diversas pessoas:
O poema sobre o amor onde Drummond floreia um pouco seu conteúdo:
AMOR
1985 – AMAR SE APRENDE AMANDO
O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: amor, sublime selo
que à vida imprime cor, graça e sentido.
“Amor” – eu disse – e floriu uma rosa
embalsamando a tarde melodiosa
no canto mais oculto do jardim,
mas seu perfume não chegou a mim.
O que você pensa sobre as poesias de amor escritas por Drummond? Espero os seus comentários. Até breve