Você julga a vida cinza de outros através de seu mundo colorido?

(Para leer el texto en español pincha en: Beth, mis minhas lágrimas y su corazón.)

(Jacarandá duas cores

Beth, minhas lágrimas e seu coração.

Nossos caminhos começaram a encontrar-se sem que ela me olhasse nos olhos. Era uma situação estranha, dessas que gostamos de evitar, porque nos faz sentir incômodos. Havia conhecido a Beth, sem no entanto, trocar muitas palavras com ela. Quando a encontrei na rua de mãos dadas com seu filho não duvidei em cumprimentá-la. Entretanto, ela baixou a cabeça e passou reto, enquanto o seu filho dizia: _ Mãe, essa não é a mulher que conhecemos no outro dia? – Foi uma situação muito estranha. Não podia entender porque não me havia cumprimentado.

É incrível como a vida dá voltas. Agora eu estava ali, atrás dela, numa sala do fórum. Sabia que Beth sentia-se incômoda respondendo as perguntas do Promotor de Justiça. Compreendia a sua mente, conhecia parte da sua vida: uma estrangeira só em um país distante, sem ninguém para apoiá-la, e um filho para cuidar. Também sou uma estrangeira em um país distante. Conheço o seu coração.

Antes, para evitar que se repetisse aquela situação incômoda, comecei a cruzar a rua quando observava que Beth vinha na minha direção. Me conhecia, por que não me cumprimentava?

Não podia ver o seu rosto, mas sabia que seu coração estava acelerado enquanto era bombardeada de perguntas, que lhe custava compreender. Eu havia escrito a petição, eram minhas palavras refletindo a sua vida. Outros não entenderiam porque era tão difícil para ela dar as resposta que eu conhecia de sobra. Desejava falar, explicar-lhes o que Beth necessitava. Entretanto, não podia fazê-lo, eu era só uma observadora, sem direito a manifestar-se.

Quanto o Promotor terminou de falar e o juiz confirmou que concordava com ele, eu não podia acreditar. Há situações na vida que somente uma palavra  “Milagre” pode explica-las. Talvez você esteja pensando que o juiz aceitou a petição que fizemos. Não. Ele foi além disso. Havia concedido a Beth o que ela necessitava sem que tivesse pedido, ultrapassando os limites da sua função.

Senti como as lágrimas caiam dos meus olhos sem que pudesse contê-las. Sabia o que a aquela decisão significava para Beth. Conhecia o seu coração. Entretanto, quando nos encontramos pela rua, eu não compreendia a sua vida, e me limitei a julgá-la através do meu mundo colorido.

O mundo está repleto de pessoas diferentes, cujas vidas e personalidades são completamente distintas. Sou uma pessoa que sempre observo a vida através de um prisma colorido. Para mim a vida é linda, apesar das suas dificuldades, problemas e pedras pelo caminho. Além disso, também sou uma pessoa automotiva e com uma autoestima equilibrada. Desde o meu ponto de vista, uma pessoa que apesar de me conhecer não me cumprimenta, deve ser muito antipática (ou ter problema de visão hehehe).

Por que algumas pessoas se escondem no seu pequeno mundo como um caracol na sua estreita concha?

Beth ensinou-me que nem todas as pessoas conseguem ver a vida através de um prisma colorido como eu. Na verdade, Beth teve uma vida muito sofrida. Durante anos bombardearam a sua autoestima, e ela se transformou em uma pessoa extremamente  insegura. Para ela é difícil olhar alguém nos olhos, seu sorriso é tímido e pouco expressivo. Beth não me cumprimentava por antipatia, como eu pensava; sentia-se incômoda por ter que cumprimentar alguém que conhecia pouco.

“Se os olhos são o espelho da alma”, Beth não desejava compartilhar os seus segredos através do intercâmbio que supõe olhar nos olhos de uma quase desconhecida. 

Atualmente Beth já se sente mais segura. Está aprendendo que tem valor. Que sua vida tem um propósito eterno; e que ela “apesar de ser uma pequena luz também pode iluminar” (essas foram as palavras usadas por ela).

Qué feliz me hace ver que a pesar de tantas equivocaciones y tantos disgustos,  todos podemos encontrar El Camino. En ese proceso, aún cuando los pasos se hacen pesados y el sendero se estrecha, nosotros nos vamos ensanchando.  

Sinto-me feliz ao ver que, apesar de tantos equívocos e problemas, todos  podemos encontrar O Caminho. Nesse processo, ainda quando os passos se tornam pesados e a senda comece a estreitar, ainda seguiremos crescendo.

Obrigada por permitir-me compartilhar contigo as minhas palavras. Adoraria saber a tua opinião. Até logo!

 

Apatia, empatia, simpatia, compartia e outras tias.

(Para leer el texto en español pincha en: Empatía)

Apatia, simpatia, compartia, empatia, e outras tias.

A jovem caminhava com passos firmes e constantes pelo centro da cidade, quando observou uma multidão gritando com cartazes nas mãos. Aproximou-se do grupo com a mesma determinação que sempre a acompanhava e ficou escutando suas demandas por um salário e condições laborais mais dignas. Sempre sentiu simpatia pela situação dos profesores, por isso resolveu ficar um pouco mais.  .

_ Vocês acham que recebemos um salário digno? – Perguntou um professor com o microfone nas mãos.

_ Não! – Responderam todos em uníssono .

_ Vocês acham que somos tratados com respeito?

_ Não! – Responderam outra vez, somando-se, entretanto, a voz firme e potente da jovem, que naquele momento já compartia a indignação do grupo.

_  Os políticos deven saber que existimos, que somos essenciais para a sociedade, e que não nos deixaremos massacrar por eles.

_ Isso mesmo! – gritou a jovem, pulando no meio da multidão.

_ Por que não invadimos a prefeitura? Devemos exigir uma solução para já. Chega de esperar. Vamos já! – Deixando o microfone de lado, o homem saiu correndo seguido da multidão e também da jovem, que naquele momento só pensava em “conquistar o mundo”.

Decidida a ser escutada a multidão invadir a prefeitura, provocando grande confusão entre os funcionários, que não tiveram tempo de frear a avalanche de pessoas. Sem encontrar resistência o grupo instalou-se no plenário, exigindo a imediata presença do prefeito. E ali estava ela, a jovem determinada que desconhecia a palavra apatia.  Gritava com tanta garra e movia-se com tanta soltura, que ninguém imaginou tratar-se de “um corpo estranho”. Por algum motivo que ela desconhecia, corria pelas suas veias a mesma indignação sentida por aqueles  desconhecidos.

_ Você acha que o prefeito virá aqui? –  Perguntou uma senhora de óculos, com voz duvidosa, sentada ao seu lado.

_ Não sei se ele terá coragem. Mas se ele não tiver, nós devemos invadir a sua sala. – Respondeu a jovem sem duvidar em fazê-lo se fosse necessário.

_ Puxa, que determinação você tem! Eu não sou assim. Aliás, só estou aqui porque todos os professores do colégio onde dou aula também vieram. Em qual colégio você trabalha?

_ Ah! Eu não sou professora. Estava passando pela rua e como sentia simpatia por vocês, me deixei levar.  – Enquanto a senhora de óculos olha perplexa à jovem, esta sobressaltava-se ao olhar o relógio.  – Puxa! Que tarde é! Tenho que ir embora antes que fechem o correio.

Levantou rapidamente e caminhou pelo corredor carregando consigo toda determinação que a caracterizava.


Agora diga-me: Você encontrou a empatia?

Espero que sim. Resolvi compartilhar esse texto, porque acredito na importância de fazer crescer dentro de nós a EMPATIA. Devemos exercitar constantemente essa capacidade de colocar-se no lugar do outro, ver as coisas através dos seus olhos e sentir com os seus sentidos.

A empatia é uma arma muito poderosa para combater o egoísmo e o preconceito. 

(A capacidade de colocar-se no lugar do outro é uma das funções mais importantes da inteligência. Demostra o gral de maturidade do ser humano.

Empatia por Augusto Cury

Esse texto que escrevi está baseado em uma situação real e é uma homenagem à minha irmã Francine, uma mulher determinada e cheia de empatia.

Se você quer ler mais sobre a empatia, deixo outro texto onde falo sobre os Neurônios Espelho e a sua relação com a empatia.

Lembre-se que “A Caixa de Imaginação” é um instrumento de comunicação bilateral. Será um prazer ler e responder aos seus comentários. Obrigada por passar por aqui e até logo.

Dois mundos, dois amores.

(Para leer el texto en español pincha en: Mis dos mundos)

Meus dois mundos

Te amo, minha nação!
Mas agora, estou aqui, bem longe de ti.
Ainda que me assusta o que vou dizer,
confessarei sem medo de mentir.
Desejo ficar, necessito estar aqui.
Me apaixonei por essa terra tão diferente de ti.

Aprendi a amar as suas línguas e a sua gente.
Me fascinam os laranjais, o cheiro da flor de azahar.
Inclusive as montanhas, tão diferentes das tuas,
que num princípio me fizeram chorar,
agora me convidam a caminhar.

Observo os meus versos, já não são iguais.
Mudaram, se misturaram.
Têm o sabor dos meus dois mundos,
daqui e daí.
Neles posso unir meus dois amores.

Confesso! Mas, por favor, não me repreendas assim.
Tenho dois amores, igualmente grandes,
igualmente fortes e não posso impedir.

(Claudine Bernardes)

Obrigada por passar pela minha “Caixa de Imaginação”. Espero seu comentário. Até logo.

Game Literário do Blog “Portal da Escritura

 

pe-logo1
Logo do Blog “Portal da Escritura”.

Achei legal e por isso resolvi reblogar esse post do blog “Portal da Escritura”.

Se trata de um concurso que eles denominaram “Game Literário” 

Se quer mais informação pode ler o texto abaixo ou entrar proprio blog: Game Literário

Olá queridos leitores do blog! É com muita alegria que venho anunciar nosso 1º Game Literário “Máquina de Escritores” do Portal da Escrita.

O game será realizado em quatro etapas, tendo início em 29 de fevereiro, com término previsto para 17 de julho. O resultado sairá no dia 18 de julho.

Teremos apenas um ganhador que levará para casa, nada mais, nada menos, que R$100,00 (cem reais).

Mais detalhes acerca do game e de cada etapa, bem como as exigências para a participação, poderão ser encontradas no edital clicando aqui.

Você não vai querer ficar fora dessa, vai? Então curta nossa página e comece a contagem regressiva, pois o cadastro começa no dia 29 de fevereiro, exclusivamente pela nossa página no facebook.

Essa iniciativa tem o apoyo da Editora Iluminare:

Illuminare

 

Gostou da dica? Compartilha também. Um grande abraço e obrigada por passar pela minha “Caixa de Imaginação”.

 

Sou poesia

(Para leer el texto en Español pincha en: Soy poesía)

Sou feita de palavras.png
Texto e ilustração: Claudine Bernardes

Sou poesia

Sou feita de palavras.
Fui escrita com amor
pelas hábeis mãos do Autor do Universo.
Não sou um acaso do destino,
desencontro da vida
ou encontro de amores perdidos.
Sou sinfonia, canção e harmonia.
No entanto, ainda sou uma canção por terminar,
uma composição inacabada.
Sigo soando, retumbando, as vezes incomodando.
Ainda estou incompleta,
me faltam acordes, mas sou melodia.
Estou nas mãos do maestro,
do meu compositor,
do autor da vida.
Ele me fez de palavras,
sou poesia.

Claudine Bernardes

Obrigada por visitar a minha “Caixa de Imaginação”. Compartilhe o texto entre seus contatos e redes sociais. Será um prazer ler os seus comentários e trocar ideias. Um grande abraço.

Tudo pronto, só falta escrever: eu dou um empurrãozinho

(Para leer el texto en Español pincha en: Todo listo, solo falta escribir)

Concursos literários
Foto de Arquivo: Claudine Bernardes

Novo documento

Folha em branco.

Fonte Arial.

Tamanho 12.

Parágrafo centralizado.

Espaçamento 1,5.

Café feito.

Música de fundo.

Tudo pronto, só falta

Escrever.

(Ivan Cardoso – Blog Contos do Cardoso)

As vezes a primeira frase é a parte mais difícil.

 

Assim é, as vezes a primeira frase é a parte mais difícil no ato de escrever. Quando tudo trava, quando a idéia não vem, então podemos recorrer a outras coisas que nos podem ajudar. Durante o tempo que estou por aqui encontrei muitos blog’s legais, com recursos para ajudar aos que desejam escrever. Assim que hoje a dica não vem de mim, vem deles, dos meus companheiros de blogsfera.

1 – Desafios:

Alguns blogs lançam desafios interessantes que são um ótimo ponto de partida para começar a escrever. Eles lançam o tema e o participante, obedecendo as regras, deve escrever o texto. Geralmente são microcontos, o que facilita as coisas.

Blog do Palhão

No ano passado o  blog do Lucas Palhão lançou a quarta-feira criativa. Foi bastante interessante, porque no final das semanas em que durou o desafio, o Lucas preparou um e-book com os textos participantes (Clica aqui para ver o livro).  Esse ano o Lucas preparou a Segunda Temporada da Quarta-Feira Criativa . Dá uma olhadinha no Blog do Palhão e tenho certeza que te animarás a participar.

Se você conhece outro projeto parecido, comente para eu colocá-lo aqui.

 

2 – Grupo de Criação Literária

O Blog Portal da Escritura, está criando um Grupo de Criação Literária, para estimular e aprender sobre a escritura. Talvez te interesse conhecer um pouco sobre essa proposta.

3 – Concursos literários

Os concursos literários podem ajudar muito na hora de exercitar a escritura. Recebes um tema, segues umas normas, e deves escrever dentro de um prazo, o que pode ser de grande ajuda. Eu já participei de vários, conforme expliquei em outro post (Concursos literários: Participar ou não?). Te aconselho a dar uma olhada nos sites e blogs que enumero abaixo. Neles tu podes encontrar vários concursos e escolher entre todos os que se adaptam ao teu estilo e necessidade.

  1. Blog Concursos literários
  2. Concursos Literários.net
  3. Oficina de criação literária
  4. Casa das Rosas – Concursos literários

 

4 – Dicas para escrever melhor

No Site Ficção em tópicos, tu podes encontrar um listado de dicas, na verdade são 50, isso mesmo CINQUENTA Dicas para escrever melhor.

O Site Info Escola também nos deixa outras 1o dicas bastante interessantes.


 

Espero que  o post de hoje tenha sido de ajuda. Se conheces outros blogs ou sites que poderiam ser incluídos no post, deixe um comentário que os incluirei. Compartilhe o texto entre os teus contatos e redes sociais. Isso me ajudará muito. Lembre-se que “A Caixa de Imaginação” é um instrumento de comunicação bilateral, será um prazer contar contigo. Um grande abraço

Re-Read. Um sebo? Não! Uma livraria “Lowcost”

(Para leer esta entrada en español pincha en: Re-Read)

Re read A caixa de imaginação
Re-Read Castellón. Fotografia de Arquivo.

Tesouro escondido

“Deslizou a mão sobre os livros enfileirados na estante. Seus olhos se fixaram em um título conhecido, e uma chuva de lembranças jorrou desde um recôndito escondido da sua memória. Sempre vale a pena reler um bom livro – pensou. Retirou o livro da estante, sentindo-se como um garimpeiro ao encontrar uma pedra preciosa. Com um sorriso nos lábios, acariciou sua capa, como se abraçasse um velho amigo que há muito tempo não via.  Abriu o livro cujas folhas amareladas eram testemunhas do tempo passado, e encontrou outro tesouro, em forma de dedicatória: ‘Querida Clara. Sei que agora os seus dias parecem nublados. Mas posso te garantir que atrás dessas nuvens escuras o sol ainda brilha. Não deixe a esperança morrer, porque sempre surgem ventos que afastam as nuvens cinzas. Ainda que agora não possa estar fisicamente ao teu lado, te envio este livro, um bom amigo, para te fazer companhia e lembrar-te que minhas orações te acompanham. Um abraço carinhoso da sua avó.’  Embora seu nome não fosse Clara e aquelas palavras não lhe fossem dirigidas, sentiu que seu coração se comovia. Com um sorriso ainda nos lábios se dirigiu  ao caixa. Depois de pagar saiu triunfante, sabendo que realmente havia encontrado um tesouro escondido.”

 

Sou uma apaixonada por livros usados. Amo encontrar anotações em páginas amareladas, e quando encontro uma dedicatória… ai… me sinto emocionada. Porém, quando entrava em um sebo, me sentia como um mineiro, buscando um pedacinho de diamante em uma gruta escura, fria e úmida. Alguns sebos parecem um ninho de gato, com livros esparramados pelo chão, ocupando cada espaço e sem qualquer ordem. Claro, que nem todos os sebos são assim. No entanto, não havia encontrado nenhum que realmente me produzisse prazer aos sentidos. Até que caminhando por Castellón encontrei Re-Read. “Uma livraria nova!” –  Pensei. Mas na verdade era uma livraria de livros usados. E pasmem! Um lugar limpo, organizado, agradável… um sonho para qualquer leitor. Na verdade, não é só agradável, é também acolhedor. Me senti tão bem ali, que o tempo passou e nem notei.

Reread 6

Além disso os preços são estupendos. Todos os livros têm o mesmo preço. Um livro por 3 euros, dois por 5 euros e cinco por 10 euros. Ali encontramos desde livros infantis, autores desconhecidos ou best-sellers como  C.S. Lewis e Ken Follet.

reread

A primeira Re-read foi aberta em Barcelona e fez tanto sucesso que logo se tornou uma franquia. Atualmente já são quase 20, e tenho certeza que o número de livrarias lowcost continuará crescendo (Deixo aqui o link http://www.re-read.com) .

Reread 2

Os deixo algumas fotinhos mais para que vejam que lugar acolhedor e agradável é a Re-Read de Castellón:

Você já conhecia Re-read? O que lhe pareceu? Espero seu comentário. Obrigada por passar por “A Caixa de Imaginação”.  Até breve 😉

Te atreves a sair das 4 paredes?

(Para leer el texto en Español pincha en: ¿Te atreves a salir de las 4 paredes?)

caja de imaginación claudine bernardes
Fotografia Claudine Bernardes  – Desierto de las Palmas/Castellón.

Meu segundo lar

Meu coração batia a um ritmo acelerado, enquanto pensava: “Já não tenho idade para essas aventuras. Mas que besteira estou dizendo? Deve estar faltando oxigênio no meu cérebro.”
O caminho era íngreme, cheio de pedras e embora eu pedalasse com dificuldade, também o fazia com insistência. “Não penso desistir”. Logo cheguei no meu destino. A grande pedra ao lado  do caminho, rodeada de espinhos e com cheiro de orégano, era o meu lugar favorito para descansar. Sentei na superfície dura e fria, com o ar úmido que corria entre as montanhas e refrescava o meu corpo ainda quente em razão do esforço físico.
O canto dos pássaros era afogado pelo ruído produzido por uma máquina que perfurava as pedras, fazendo surcos e deixando cicatrizes naquele pedaço de paraíso. Meu pequeno paraíso, meu segundo lar. Não pensava assim quando olhei pela primeira vez aquelas montanhas. Pareciam tão áridas, pedregosas e secas… no entanto, já não sou a mesma. Meus olhos mudaram e meus sentimentos também.   Agora, essas montanhas fazem parte de mim.
Quando o dia parece cinza e triste, me basta  observá-las de longe, e um sorriso nasce no meu rosto.

Hoje te proponho algo novo, um desafio: Escrever fora das quatro paredes.

Tenho um processo criativo bastante desordenado, por isso escrevo muitas coisas ao mesmo tempo. Minhas idéias ou inspirações costumam surgir em qualquer lugar. Sempre digo que as palavras me perseguem. Quando surge alguma idéia, tenho que anotá-la em seguida (não quero que escape) Por isso, sempre levo comigo um caderno de notas. Só depois de ter pensado muito sobre o tema, e de que esteja bastante estruturado na minha cabeça, me sento para escrever.

Pois hoje, meu desafio foi levar a minha mesa de escritório para a rua (ou melhor, para a montanha). Trabalhei sentindo a fragrância do orégano e escutando o cântico dos pássaros (interrompida por momentos pelo ruído da perfuradora 🙂 )

Por que resolvi fazer isso?

Creio que sair das quatro paredes abre a nossa visão, nos permite ver tudo com mais amplidão. Se trata de escrever reagindo ao movimento do mundo que nos rodeia. Não estaremos somente descrevendo o que imaginamos. Escrevemos o que vemos, escutamos, sentimos, tocamos e cheiramos.

Aceitas entrar nessa viagem comigo?

O desafio que proponho é de que saias do teu lugar de conforto.  Que escrevas intercambiando o que sentes por dentro com o que recebas de fora, misturando tudo e gerando algo diferente.  Para isso deves experimentar os teus cinco sentidos e até um pouco do sexto.

Não importa sobre o que escrevas. Tudo o que escrevemos pode entrar nesse processo: poesia, contos, moda, crítica social, tudo é válido.

1. ESCUTA: escuta o que passa ao teu redor y descreva-lo.   O tom das palavras que revelam sentimentos, desejos ou guardam segredos. O ruído da rua, das pessoas caminhando, os falatórios etc.

2. OBSERVA:  as pessoas, como caminham, se movem ao falar e interagir com outros, como observam outras pessoas. Que captas delas? Como as les? Que estarão pensando? Quais sãos os seus medos, desejos, preocupações?

3. Cheira: todo lugar e toda pessoa tem um aroma próprio e peculiar. Sinta-lo, decifra-lo, tranforma-lo em palavras. .

4. TOCA: Sinta a textura dos objetos que estão ao teu redor, inclusive das pessoas (se podes, é claro, cuidado para que não pensem que és um (a) louco (a) heheheh).

5. SABOREIA: Que sabor tem esse momento?

6. UTILIZA O INSTINTO: O que sentes? O que imaginas que passará? Utiliza a imaginação.

 

Agora compartilho contigo algumas fotografias do meu segundo lar:

la caja de imaginación desierto de las palmas claudine bernardes

la caja de imaginación desierto de las palmas

Claudine Bernardes montanhas espanha
Fotografia e edição: Claudine Bernardes

Se aceitas o desafio, publica o teu texto no Facebook, blog ou onde queiras. Depois avisa-me, será um prazer ler-te. Obrigada pela companhia e por ler a minha Caixa de Imaginação. Espero receber os teus comentários. Até breve 😉

Meu presente para Drummond.

(Para leer el texto en Español pincha: 31 de Octubre, el día de Drummond)

carlos drummond de andrade

Já sei! Estou uns dias atrasada, mas como prometi cumprir a minha semana de homenagem à Drummond, não poderia deixar de colocar um último post (que deveria ter subido no sábado 31), com um presente para ele.

Carlos Drummond de Andrade é um poeta que me inspira muito e o seu poema que mais gosto é “José”. Drummond tem o seu José e eu tenho a minha “Maria” e com esse poema que escrevi, quero homenagear o meu poeta preferido. Espero que gostem:

As lembranças de Maria

O que foi Maria?
Estás só?
Não tens com quem falar?
Quem imaginaria que um dia,
isso te podia passar.

Dizem que aos filhos
devemos criá-los para o mundo.
Para que possam as oportunidades aproveitar.
Mas, onde estava o mundo,
quando os teus cinco filhos tiveram catapora,
e tu sozinha os cuidaste,
passando as noites em claro?

Ah, Maria! Me das pena.
A vida mudou,
não há ninguém ao teu lado.
Estás velha, doente e sozinha,
e ninguém quer te cuidar.

Lembras quando eras
o centro das atenções?
Quando o mundo
giraba ao teu redor?
Naqueles tempos eras feliz
e não sabias, Maria.

Barulho por toda a casa,
as crianças te seguindo por todos os lados,
te faziam mil perguntas,
como se tivesses todas as respostas.
Estavas sempre ocupada,
muitas vezes te sentias agoniada,
e até em desaparecer pensavas.

Lembras como eras forte,
decidida e cheia de vida?
Sei que lembras Maria.
Porque o único que te resta,
o que te faz companhia,
são as lembranças da tua antiga vida.
(Claudine Bernardes)

Sei que “José” é um poema muito conhecido, porém não poderia deixar de colocá-lo nesta publicação.

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Escutar a poesia interpretada pelo seu autor é um privilégio. E Carlos Drummond de Andrade nos deu um presente duplo ao escrever e declamar esse poema. José, na voz de Drummond:

“José” também virou música na voz de Paulo Diniz:

.

Com isso terminamos oficialmente a semana de Homenagem à Drummond da “A Caixa de Imaginação“. Obrigado pela sua companhia e faça os seus comentários. Será um prazer e uma alegria respondê-los.